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O que a BRASPEN diz sobre o uso clínico de ômega 3 via parenteral?

Com o tempo, o uso de emulsões lipídicas nas fórmulas para nutrição parenteral avançou consideravelmente. Desse modo, é natural que as recomendações tenham que ser atualizadas, com o que mais de recente a literatura aponta para que as diretrizes adequadas sejam seguidas, ampliando a eficiência e a segurança desse tipo de intervenção.

É por isso que a Sociedade Brasileira de Nutrição Parenteral e Enteral (BRASPEN) publicou em 20221 um novo posicionamento a respeito do uso clínico de ômega-3 via parenteral, com base nas diretrizes internacionais mais recentes sobre o tema.

 

Uso de emulsões lipídicas na nutrição parenteral

Em pacientes recebendo nutrição via parenteral, as emulsões lipídicas (EL) representam uma importante fonte de energia não proveniente da glicose e contêm uma série de ácidos graxos essenciais2, minimizando o risco de episódios de hiperglicemia e insuficiência hepática. Em geral, as ELs devem ser administradas em conjunto com a nutrição parenteral ou em complemento a nutrição via enteral ou oral, sempre que for identificado o risco de desnutrição1.

Atualmente, existem no mercado ELs com diferentes fontes de ácidos graxos, indo além do óleo de soja, conhecido como um lipídio de primeira geração. Após a segunda geração de lipídios (com o óleo de coco recebendo mais destaque), tornaram-se mais amplamente disponíveis os lipídios de terceira geração. Entre eles estão o óleo de oliva e, em especial, o óleo de peixe, reconhecido  pelo seu alto teor de ômega-3.1

Se por um lado, ELs ricas em ômega-6 tem potencial pró-inflamatório e imunossupressor e pró-trombótico, aquelas com composição rica em ácidos graxos da família do ômega-3 atuam com propriedades anti-inflamatórias e anti-trombóticas.3

 

Leia também: veja tudo o que você precisa saber sobre emulsões lipídicas parenterais.

 

Recomendações de uso clínico de ômega-3 via parenteral

O perfil metabólico do paciente deve sempre ser levado em conta na escolha da EL introduzida na nutrição parenteral: aqueles enfermos hipermetabólicos devem receber, de preferência, emulsões com lipídios mais modernos, com uma maior concentração de ômega-3.1

Diante disso, a BRASPEN indica que pacientes com perfil hipermetabólicos se beneficiam da adição de ômega-3 em suas emulsões lipídicas por meio do acréscimo do óleo de peixe.1 Na maior parte dos casos, a EL pode ser acrescida às soluções de glicose e aminoácido na forma de nutrição parenteral manipulada, embora o quadro clínico possa indicar uma administração à parte.4,5,6

A dose máxima a ser ofertada sem risco à segurança do paciente é de até 1,5 g/ kg em 24 horas. Todavia, a dose usual é de 1g/kg/ dia.4,5,7 Em relação ao óleo de peixe, a maior parte dos estudos clínicos analisados pela diretriz da BRASPEN indica a recomendação entre 0,1 e 0,2 g/kg/dia para pacientes adultos clinicamente estáveis.1 Desde que sejam respeitados tais parâmetros, não há evidências de que a introdução de ELs com óleo de peixe na composição aumente o risco do desencadeamento de quadros de coagulopatia ou sangramentos.4,8

De todo modo, quadros específicos como os que envolvam perioperatório, câncer, diferentes estágios de enfermidades graves, pacientes pediátricos ou presença de disfunção hepática reúnem evidências significativas dos benefícios da introdução de ELs ricas em ômega-31, sempre levando em conta as especificidades de cada contexto.

 

Possíveis contraindicações

Como já destacado, se respeitadas as doses máximas recomendadas, a introdução de ELs ricas em ômega-3 não parece representar riscos adicionais ao paciente. Isso, claro, não significa que o uso desse recurso na nutrição parenteral não tenha limitações para indicação e potencial mudança de desfechos. A própria BRASPEN reforça que não há evidências sólidas para o emprego de ELs ricas em ômega-3 para recuperação muscular na sarcopenia primária ou secundária à desnutrição.1

Pacientes com hipertrigliceridemia grave ou com problemas no metabolismo lipídico devem ser observados com cuidado e geralmente se incluem no grupo para contraindicação. Além disso, o nível sérico de triglicérides deve ser acompanhado desde o início e nunca deve ultrapassar 400 mg/d durante o período de infusão.4

Entretanto, a principal contraindicação para esse tipo de EL são as reações alérgicas. Logo, é fundamental observar as orientações do fabricante da fórmula, que indicam o risco de hipersensibilidade para o óleo de soja, de oliva, de amendoim e de peixe.9

Por fim, a utilização de ELs com tais perfis exigem atenção adicional contra riscos de contaminação, principalmente durante a manipulação. Além disso, é preciso levar em conta o risco acentuado de peroxidação lipídica, que pode causar danos celulares e lesões hepáticas. Acrescentar ácido ascórbico e evitar a exposição da emulsão à luz, em geral, reduz esse risco.10

Com tudo isso, o uso clínico do ômega-3 via parenteral, de acordo com o r posicionamento da BRASPEN, estão claramente associados a melhores desfechos clínicos em vários quadros1, com pacientes de diferentes perfis e evidências robustas confirmando as diretrizes existentes. Mas ainda há muito a ser explorado, principalmente para entender melhor as possíveis limitações dessa alternativa.

 

Para continuar entendendo a importância do ômega-3 na nutrição parenteral, veja como ele pode ajudar na redução de complicações pós-operatórias de câncer gástrico.

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