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Bolsas tricompartimentadas na nutrição parenteral: por que elas podem ser boas opções?

A administração da nutrição parenteral, depois de ser bem indicada, pode ser feita de diversas formas. Por isso, há uma variedade de sistemas a serem escolhidos conforme as necessidades do paciente e protocolos da instituição. Nesse contexto, os sistemas conhecidos como “tudo em um” (AiO, all-in-one, em inglês), podem ser disponibilizados na forma de bolsas tricompartimentadas, no qual cada compartimento armazena um dos três macronutrientes (carboidrato, proteína e lipídio).

Essas bolsas são divididas por lacres que armazenam os conteúdos de maneira separada e que devem ser rompidos imediatamente antes da fórmula de nutrição parenteral ser fornecida ao paciente.

Portanto, vale ter em mente em que circunstâncias as bolsas com múltiplos compartimentos podem ser utilizadas e que benefícios essas opções oferecem em comparação a outros tipos de sistemas de administração.

As diferenças entre a nutrição parenteral padronizada e individualizada

Antes de tudo, para entender as possibilidades de uso das bolsas com múltiplos compartimentos, (incluindo aquelas tricompartimentadas) é preciso dar um passo atrás e entender a diferença entre a nutrição parenteral padronizada e a individualizada.

Na prática, a nutrição parenteral padronizada é aquela que tem fórmulas desenhadas para atender as necessidades nutricionais da maioria dos pacientes em uma mesma faixa etária ou condição de saúde1.

A nutrição individualizada, por sua vez, é administrada com fórmulas desenvolvidas de acordo com as especificidades do paciente ou com uma combinação de macronutrientes desenhada de maneira particular para uma condição ou período específicos. Ela é necessária quando uma fórmula padrão comercial não pode ser utilizada2.

Fórmulas individualizadas são manipuladas em farmácias hospitalares por profissionais especializados, seguindo regras rígidas de assepsia. Elas contam com uma janela de uso bastante reduzida, mesmo se armazenadas em temperatura apropriada. Portanto, é importante que sejam prescritas, produzidas e utilizadas de forma planejada. Caso contrário, elas deverão ser desprezadas.

Em geral, é possível apontar vantagens e desvantagens em cada uma das opções apresentadas. A nutrição parenteral padronizada, por exemplo, tende a garantir uma maior estabilidade do produto final, maior custo-benefício e segurança, por isso torna-se uma opção atrativa3,4,.  Assim sendo, mesmo que não atendam todas as necessidades de alguns pacientes, elas podem ser utilizadas em circunstâncias que envolvam condições estáveis5.

Veja também: Qual a importância dos oligoelementos na nutrição parenteral?

As características das bolsas tricompartimentadas

Dentro das opções de nutrição parenteral padronizada existem várias alternativas de sistema tudo em um (AiO). Elas podem combinar, em apenas um recipiente, eletrólitos e macronutrientes, a serem administrados por uma via única de acesso para infusão6.

Exemplos disso são as bolsas com múltiplos compartimentos. As bolsas com dois compartimentos geralmente trazem glicose e aminoácidos.  Já as bolsas tricompartimentadas, como o próprio nome diz, são compostas por três compartimentos separados por lacres (AiO, 3-in-1). Eles são rompidos no momento da administração (veja mais no info).

 

Os benefícios da escolha das bolsas tricompartimentadas

Com o tempo, várias evidências vêm se acumulando sobre o uso das bolsas multicompartimentadas, em especial quando se considera aquelas com três partes distintas (3-em 1). Um estudo publicado em 2021, por exemplo, mostrou que tal opção demandava, em média, um tempo menor da equipe em comparação com as bolsas preparadas nas farmácias hospitalares no momento da administração7.

Com isso, foi possível reduzir o tempo de trabalho das equipes com tal tarefa em 62%8. Além disso, o custo das bolsas tricompartimentadas também era menor: ao todo, a economia estimada foi de 37%7. Ou seja, de acordo com esses dados, foi possível obter ganhos de eficiência e ampliar o custo-benefício da nutrição parenteral.

Do ponto de vista clínico, outro estudo, dessa vez divulgado em 2017 mostrou que bolsas tricompartimentadas alcançam indicadores nutricionais e de segurança similares àqueles de bolsas manipuladas8. Além disso, a opção com três compartimentos ofereceu ganhos de tempo significativos, ampliando a eficiência do trabalho de cuidado no ambiente hospitalar8.

Em suma, a indicação de uso das bolsas tricompartimentadas deve ter segurança e a eficácia certificadas por uma equipe multidisciplinar.  Adicionalmente, cabe a esses profissionais observar as necessidades do paciente e as variações de demandas acordo com as circunstâncias para que a melhor indicação seja realizada.

Aproveite e confira agora as respostas para algumas perguntas frequentes sobre nutrição parenteral.

 

Referências:

  1. Kochevar M, Guenter P, Holcombe B, Malone A, Mirtallo J. ASPEN statement on parenteral nutrition standardization. J Parenter Enteral Nutr. 2007;31(5):441-8. Disponível em: <https://aspenjournals.onlinelibrary.wiley.com/doi/10.1177/0148607107031005441> Acesso em 02 de fevereiro de 2024.
  2. Riskin A, Picaud JC, Shamir R; ESPGHAN/ESPEN/ESPR/CSPEN working group on pediatric parenteral nutrition. ESPGHAN/ESPEN/ESPR/CSPEN guidelines on pediatric parenteral nutrition: Standard versus individualized parenteral nutrition. Clin Nutr. 2018 Dec;37(6 Pt B):2409-2417. Disponível em: <https://pubmed.ncbi.nlm.nih.gov/30055867/> Acesso em 02 de fevereiro de 2024.
  3. Bethune K. The use of standard parenteral nutrition solutions in pediatrics: a UK perspective. 2001;17(4):357-9. Disponível em: <https://www.sciencedirect.com/science/article/abs/pii/S089990070000592X?via%3Dihub > Acesso em 15 de janeiro de 2024.
  4. Moreno Villares JM, Fernandez-Shaw C, Gomis Munoz P, Valero Zanuy MA, Leon Sanz M. Pediatric parenteral nutrition: are standard solutions better than individualized ones? An Esp Pediatr. 2002;57(1):29-33.
  5. Beecroft C, Martin H, Puntis JWL. How often do parenteral nutrition prescriptions for the newborn need to be individualized? Clin Nutr. 1999;18(2):83-5.
  6. Pertkiewicz M, Dudrick SJ. Different systems for parenteral nutrition (AIO vs. MB). In: Sobotka L, editor. Basics in Clinical Nutrition. Praga: Galen; 2011. p. 370-372.
  7. Cogle SV, Martindale RG, Ramos M, Roberti GJ, Roberts PR, Taylor K, Sacks GS. Multicenter Prospective Evaluation of Parenteral Nutrition Preparation Time and Resource Utilization: 3‐Chamber Bags Compared With Hospital Pharmacy–Compounded Bags. J Parenter Enteral Nutr. 2021;45(7):1552-1558. Disponível em: <https://aspenjournals.onlinelibrary.wiley.com/doi/10.1002/jpen.2045 > Acesso em 02 de fevereiro de 2024.
  8. Yu J, Wu G, Tang Y, Ye Y, Zhang Z. Efficacy, safety, and preparation of standardized parenteral nutrition regimens: three‐chamber bags vs compounded monobags—a prospective, multicenter, randomized, single‐blind clinical trial. Nutr Clin Pract. 2017;32(4):545-551. Disponível em: <https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pmc/articles/PMC5542131/>  Acesso em 02 de fevereiro de 2024.

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