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O que pode ser feito para reduzir o risco de infecção associada ao cateter na nutrição parenteral?

Durante a administração de terapia nutricional por via parenteral, quadros de sepse são uma das principais complicações. Esse problema está relacionado à elevação da morbimortalidade e aumento dos custos médico-hospitalares1. Por isso, saber como evitar infecção associada ao cateter na nutrição parenteral é indispensável para preservar a condição clínica do paciente submetido a essa intervenção.

Os cuidados para prevenir tal problema passam pela escolha do tipo de cateter de acordo com o ambiente em que a nutrição parenteral é administrada, pela assepsia correta durante toda a manipulação e pela conservação do acesso e dos curativos em boas condições.

 

Escolha dos tipos de cateteres

A escolha do tipo de cateter a ser utilizado para a administração da nutrição parenteral depende de fatores associados ao quadro de cada paciente. Assim, é preciso levar em conta o local em que será realizada a terapia (se em casa ou no hospital), o tempo de permanência, a previsão de uso da nutrição parenteral e o tipo de fórmula empregada, além da experiência do profissional responsável pela colocação do cateter2.

Dessa forma, a nutrição parenteral em pacientes hospitalizados pode ser infundida por meio de cateter venoso central não tunelizado, com um, dois ou mais lúmens ou ainda um cateter PICC (cateter venoso central de inserção periférica)2.

Nos casos em que o tempo de infusão for curto e a osmolaridade da fórmula for menor que 900 mOsm/L, os cateteres venosos periféricos podem ser usados3,4. De qualquer maneira, as evidências disponíveis apontam que não há maior risco de infecção ou tromboflebite à medida que o tempo do cateterismo aumenta5.

A troca do cateter não deve ocorrer em períodos inferiores a 96 horas. Por outro lado, se houver sinais de inflamação no local da inserção, o cateter deve ser removido logo que os primeiros indicativos do problema forem percebidos6-9.

Em ambiente domiciliar, embora haja dificuldade de construção de consenso com base em evidências de qualidade10, o uso do PICC costuma ser o recomendado2. Tal indicação se dá sobretudo quando a recomendação for para períodos menores de até 3 ou 4 meses2. Caso o tempo exceda isso, os cateteres tunelizados e os totalmente implantados são a principal indicação2. Graças a determinadas características, cateteres tunelizados tipo Broviac ou Hickman oferecem menor risco de infecção2.

 

Veja também: O que você precisa saber sobre as indicações da nutrição parenteral?

 

Cuidados de assepsia para evitar a infecção associada ao cateter na nutrição parenteral

A orientação da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA) para reduzir o risco de infecção associada ao cateter é o emprego para limpeza da pele com solução alcoólica com gluconato de clorexidina, sempre com concentração a 0,5%2.

A European Society for Clinical Nutrition and Metabolism (ESPEN), por sua vez, recomenda que a solução de clorexidina tenha concentração de, ao menos, 2%. Além disso, a entidade indica a necessidade de desinfecção dos adaptadores, drenos e conectores 3No mais, os conjuntos de administração devem ser trocados periodicamente.

A desinfecção das conexões, dos conectores valvulados e ports de adição de medicamentos deve ser feita com solução antisséptica à base de álcool. Para garantir a eficácia do procedimento, ele deve ser feito com movimentos capazes de gerar fricção mecânica, por intervalos de entre 5 e 15 segundos 3,11.

As evidências a respeito do tempo de desinfecção têm nível moderado de certeza. Assim, cada estabelecimento de saúde deve acompanhar a presença de quadros de infecção para avaliar o desempenho do procedimento11. A falta do movimento de fricção no momento da desinfecção e as diferenças entre os modelos de conectores podem reduzir a eficácia.

Ademais, é importante fazer a desinfecção dos conectores antes de cada acesso ou manipulação. Entretanto, eles devem ser trocados em caso de desconexão do cateter, presença de sangue ou outro sinal de sujeira11.

 

Recomendações de manutenção de curativos e cateteres

Curativos transparentes, gazes ou fitas adesivas esterilizadas são os componentes mais utilizados para a elaboração dos curativos2. Para reduzir o risco de problemas, as gazes devem ser trocadas a cada 48 horas e os curativos transparentes a cada 7 dias2. Todavia, a troca deve ser feita de forma imediata sempre que for percebido que há umidade, sujeira ou problemas de fixação do material1.

Durante a troca do curativo, o local pode ser limpo com solução fisiológica (NaCl a 0,9%). Nesse momento, o responsável pode avaliar as condições da pele e do cateter e aplicar uma solução antisséptica se não forem notadas anormalidades1.

Pacientes com cateteres de longa permanência podem se beneficiar com a aplicação de pequenas doses de anticoagulantes, principalmente para prevenir tromboembolismo venoso em pacientes pediátricos1,12. Por fim, algumas evidências corroboram a relevância da aplicação de antimicrobianos em cateteres venosos de curta duração, reduzindo as complicações infecciosas3.

A nutricional via parenteral é um processo complexo, sujeito a uma série de problemas que podem comprometer a segurança do procedimento. Dessa forma, reforçar protocolos para reduzir o risco de infecção associada ao cateter na nutrição parenteral é fundamental, seja no ambiente hospitalar, seja no ambiente domiciliar.

 

Para ampliar a segurança, veja alguns cuidados para manuseio e administração da nutrição parenteral.

 

 

 

 

 

Referências:

  1. Ciosak, S. I., Matsuba, C. S. T., Silva, M. L. T., Serpa, L. F., & Poltronieri, M. J. (2011). Acessos para terapia de nutrição parenteral e enteral. Projeto Diretrizes, 9. Disponível em: https://amb.org.br/files/_BibliotecaAntiga/acessos_para_terapia_de_nutricao_parenteral_e_enteral.pdf Acesso em 06 abr 2023.
  2. Gonçalves, R. C., de Matos, L. B. N., Cunha, H. F. R., Totti, F., Kawagoe, J. Y., Martin, L. G. R., … & Correia15, M. I. T. D. Manual BRASPEN de Competências Relacionadas à Dispensação e à Administração de Nutrição Parenteral. Braspen J, 3, 217-232. Disponível em: http://arquivos.braspen.org/journal/jul-ago-set-2019/artigos/1-SeparataManualGrafica.pdf Acesso em 06 abr 2023
  3. Pittiruti M, Hamilton H, Biffi R, MacFie J, Pertkiewicz M; ESPEN. ESPEN Guidelines on Parenteral Nutrition: central venous catheters (access, care, diagnosis and therapy of complications). Clin Nutr. 2009;28(4):365-77. Disponível em: https://www.clinicalnutritionjournal.com/article/S0261-5614(09)00078-8/fulltext Acesso em 06 abr 2023
  4. Starker P, Wretlind A, Kinney JM. Parenteral nutrition. CRC Handbook of Nutritional Supplements: Volume I: Human Use. 2018;47:317-30.
  5. Cicolini G, Bonghi AP, Di Labio L, Di Mascio R. Position of peripheral venous cannulae and the incidence of thrombophlebitis: an observational study. J Adv Nurs. 2009;65(6). Disponível em: https://onlinelibrary.wiley.com/doi/10.1111/j.1365-2648.2009.04980.x Acesso em 9 de março de 2023
  6. Guenter P, Worthington P, Ayers P, Boullata JI, Gura KM, Marshall N, et al.; Parenteral Nutrition Safety Committee, American Society for Parenteral and Enteral Nutrition. Standardized competencies for parenteral nutrition administration: the ASPEN Model. Nutr Clin Pract. 2018;33(2):295-304 Disponível em: https://aspenjournals.onlinelibrary.wiley.com/doi/10.1002/ncp.10055  Acesso em 06 abr 2023
  7. Turpin RS, Canada T, Rosenthal V, Nitzki-George D, Liu FX, Mercaldi CJ, et al.; IMPROVE Study Group. Bloodstream infections associated with parenteral nutrition preparation methods in the United States: a retrospective, large database analysis. JPEN J Parenter Enteral Nutr. 2012;36(2):169-76. Disponível em: https://aspenjournals.onlinelibrary.wiley.com/doi/abs/10.1177/0148607111414714 Acesso em 9 de março de 2023
  8. Timsit JF, Mimoz O, Mourvillier B, Souweine B, GarrousteOrgeas M, Alfandari S, et al. Randomized controlled trial of chlorhexidine dressing and highly adhesive dressing for preventing catheter-related infections in critically ill adults. Am J Respir Crit Care Med. 2012;186(12):1272-8. Disponível em: https://www.atsjournals.org/doi/10.1164/rccm.201206-1038OC?url_ver=Z39.88-2003&rfr_id=ori:rid:crossref.org&rfr_dat=cr_pub%20%200pubmed Acesso em 9 de março de 2023
  9. Simmons S, Bryson C, Porter S. “Scrub the hub”: cleaning duration and reduction in bacterial load on central venous catheters. Crit Care Nurs Q. 2011;34(1):31-5. Disponível em: https://journals.lww.com/ccnq/Abstract/2011/01000/_Scrub_the_Hub___Cleaning_Duration_and_Reduction.6.aspx  Acesso em 9 de março de 2023
  10. Kovacevich DS, Corrigan M, Ross VM, McKeever L, Hall AM, Braunschweig C. American Society for Parenteral and Enteral Nutrition Guidelines for the selection and care of central venous access devices for adult home parenteral nutrition administration. J Parenter Enter Nutr. 2019;43(1):15-31 Disponível em: https://aspenjournals.onlinelibrary.wiley.com/doi/10.1002/jpen.1455 Acesso 06 abr 2023
  11. Brasil. Agência Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA). Medidas de prevenção de infecção relacionada à assistência à saúde. Brasília: Anvisa; 2017. Disponível em: https://www.gov.br/anvisa/pt-br/centraisdeconteudo/publicacoes/servicosdesaude/publicacoes/caderno-4-medidas-de-prevencao-de-infeccao-relacionada-a-assistencia-a-saude.pdf/view Acesso em 06 abr 2023
  12. Shah PS, Kalyn A, Satodia P, Dunn MS, Parvez B, Daneman A, et al. A randomized, controlled trial of heparin versus placebo infusion to prolong the usability of peripherally placed percutaneous central venous catheters (PCVCs) in neonates: the HIP (Heparin Infusion for PCVC) study. Pediatrics 2007;119:e284-91. Disponível em: https://publications.aap.org/pediatrics/article-abstract/119/1/e284/70659/A-Randomized-Controlled-Trial-of-Heparin-Versus?redirectedFrom=fulltext Acesso em 9 de março de 2023

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