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Acesso venoso central: o que você precisa saber sobre ele

A implementação de um acesso venoso central é um recurso valioso diante de inúmeras situações, principalmente no manejo de pacientes graves. Isso vale, por exemplo, para aqueles que precisam receber terapia nutricional via parenteral.

Porém, alguns cuidados são indispensáveis para que a escolha dessa via de acesso não se torne um problema, principalmente diante do risco de complicações.  Assim, uma série de orientações precisam ser seguidas, não só para garantir a eficiência da intervenção, como para reduzir a chance de problemas associados à introdução desse acesso ao sistema circulatório.

 

Critérios para escolha do acesso venoso central

De forma resumida, o acesso venoso central é feito pela introdução de um cateter em uma veia calibrosa do sistema cardiovascular. Desse modo, é possível acessar, por exemplo, a veia cava superior, responsável pela admissão de grande parte do fluxo sanguíneo no átrio direito.

Em geral, o acesso venoso central é a via preferencial para administração da nutrição parenteral1. Porém, alguns aspectos devem ser considerados nessa decisão. Em geral, tal definição deve levar em conta2:

  • condição de saúde do paciente;
  • impossibilidade de acesso periférico;
  • composição e características da fórmula de nutrição parenteral, principalmente no que diz respeito à osmolaridade;
  • duração (curto ou longo prazo);

São consideradas terapias nutricionais de longo prazo aquelas que superam os 15 dias1. Nesse contexto, a via de acesso central deve ser priorizada. Em relação à osmolaridade, a adoção desse tipo de acesso pela veia cava ou pelo átrio direito favorece soluções hiperosmolares 1,3, superiores à > 850 mOsmol/Kg1,2. Tal possibilidade se dá pelo alto fluxo sanguíneo encontrado no acesso venoso central. Por outro lado, o maior risco da entrada de patógenos exige cuidados adicionais3

 

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As diferentes técnicas de implementação do acesso venoso central

A punção para o acesso venoso central pode ser feita com diferentes técnicas. Em geral, a introdução do cateter pode se dar por via percutânea, por meio da inserção de cateteres semi ou totalmente implantados1,2. Para isso, as veias de preferência são, na ordem, a subclávia, a jugular ou a femoral1.

O procedimento de introdução deve ser feito por médico capacitado, seguindo todos os protocolos de assepsia1. No mais, pode-se recorrer ao suporte do ultrassom6 ou de radiografia no tórax para controlar a posição do cateter7.8. Além disso, para terapia de longa duração ou introdução permanente do cateter, muitas vezes observada em terapia nutricional parenteral domiciliar, a preferência deve ser sempre por opções tunelizadas6.

Para essa modalidade de nutrição parenteral, o cateter central de inserção periférica (conhecido como PICC, da sigla em inglês Peripherally Inserted Central Catheter) costuma ser a opção mais adotada1. Como o nome indica, ele é introduzido perifericamente por via percutânea até a veia cava superior. Assim, há menor risco de acidentes e de contaminação durante a permanência. As veias indicadas para esse procedimento são a cefálica, e basílica ou a cubital média1.

Alternativas são o catéter de Broviac–Hickmann (central semi-implantado)1, o cateter de Groshong (tunelizado, com adaptador desconectável)2 ou de sistema de portas (totalmente implantado, também chamado de Porth-A-Cath)2.

 

Os cuidados para prevenir complicações

Em geral, os cuidados com a nutrição parenteral dizem respeito sobretudo a formas de prevenção de infecção no cateter. Para isso, medidas de assepsia são essenciais, desde o momento da implementação do acesso venoso central, conforme já destacado.

Tal preocupação deve ser mantida em relação ao manuseio e o acompanhamento da evolução do paciente ao longo do tratamento.  É preciso reforçar ainda os cuidados com a formação de fibrinas ou trombos no cateter, o que prejudica sua permeabilidade2.

A recomendação para adoção de soluções antissépticas para limpeza da pele antes da seleção do acesso varia entre soluções de 2% à base de clorexidina2 ou uma solução de iodopovidona com concentração de 5% em álcool isopropílico a 70%1. Curativos devem ser trocados de forma periódica, a partir do material que eles são confeccionados. Assim, o intervalo recomendado costuma ser de 48 horas para curativos com gaze e até 7 dias para curativos de material transparente2.  Ademais, para pacientes em nutrição parenteral de longo prazo, doses baixas de anticoagulantes podem contribuir para reduzir o risco de trombose1,12.

Ao lado do monitoramento adequado, esses cuidados contribuem para a prevenção da maioria das complicações relacionadas ao acesso venoso central, principalmente no contexto da administração da nutrição parenteral. Assim, a intervenção reforça seu potencial para contribuir com o progresso clínico do paciente.

Saiba mais sobre a recomendação de macronutrientes na nutrição parenteral para adultos.

 

 

 

Referências

 

  1. Ciosak, S. I., Matsuba, C. S. T., Silva, M. L. T., Serpa, L. F., & Poltronieri, M. J. (2011). Acessos para terapia de nutrição parenteral e enteral. Projeto Diretrizes. Disponível em: https://amb.org.br/files/_BibliotecaAntiga/acessos_para_terapia_de_nutricao_parenteral_e_enteral.pdf Acesso fev. 2023.
  2. FRESENIUS KABI. Compêndio de Nutrição Parenteral. Disponível em: https://www.fresenius-kabi.com/br/documents/compendio_10_05_2018.pdf Acesso fev. 2023.
  3. Grady MP, Alexander M, Dellinger EP, Gerberding JL, Heard SO, Maki DG, et al. Guideline for the prevention of intravascular catheter-related infections. Clinical infectious diseases : an official publication of the Infectious Diseases Society of America, 52(9), e162–e193MMWR 2002;51(RR10):1-26. Disponível em: https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pmc/articles/PMC3106269/ Acesso dez. 2022.
  4. Sherertz RJ, Ely EW, Westbrook DM, Gledhill KS, Streed SA, Kiger B, et al. Education of physicians training can decrease the risk for vascular catheter infection. Ann Intern Med 2000;132:641-8. Disponível em: https://www.acpjournals.org/doi/10.7326/0003-4819-132-8-200004180-00007?url_ver=Z39.88-2003&rfr_id=ori:rid:crossref.org&rfr_dat=cr_pub%20%200pubmed Acesso dez. 2022.
  5. Eggimann P, Harbarth S, Constatin MN, Touveneau S, Chevrolet JC, Pittet D. Impact of a prevention strategy detected at vascular-access care on incidence of infection acquired in intensive care. Lancet 2000;355:1864-8. Disponível em: https://www.thelancet.com/journals/lancet/article/PIIS0140-6736(00)02291-1/fulltext Acesso dez. 2022.
  6. Pittiruti M, Hamilton H, Bifi R, Macie J, Pertkiewicz M. ESPEN Guidelines on Parenteral Nutrition: Central Venous Catheters (access, care, diagnosis and therapy of complications). Clin Nutr. 2009;28:365- 377. Disponível em: https://www.clinicalnutritionjournal.com/article/S0261-5614(09)00078-8/fulltext Acesso fev. 2023.
  7. Jauch KW, Schregel W, Stanga Z et al. Access technique and its problems in parenteral nutrition – Guidelines on Parenteral Nutrition, Chapter 9. German Medical Science. 2009;7:1-18. Disponível em: https://www.egms.de/static/en/journals/gms/2009-7/000078.shtml Acesso fev. 2023.
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  9. Pertkiewicz M, Dudrick SJ. Parenteral nutrition. In: Sobotka L, editor. Basics in Clinical Nutrition. Prague: Galen, 2011: 348-417.
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  1. Shah PS, Kalyn A, Satodia P, Dunn MS, Parvez B, Daneman A, et al. A randomized, controlled trial of heparin versus placebo infusion to prolong the usability of peripherally placed percutaneous central venous catheters (PCVCs) in neonates: the HIP (Heparin Infusion for PCVC) study. Pediatrics 2007;119:e284-91 Disponível em: https://publications.aap.org/pediatrics/article-abstract/119/1/e284/70659/A-Randomized-Controlled-Trial-of-Heparin-Versus?redirectedFrom=fulltext Acesso em mar. 2023.
  2. Koletzko B, Goulet O, Hunt J, Krohn K, Shamir R; Parenteral Nutrition Guidelines Working Group; et al. 1. Guidelines on Paediatric Parenteral Nutrition of the European Society of Paediatric Gastroenterology, Hepatology and Nutrition (ESPGHAN) and the European Society for Clinical Nutrition and Metabolism (ESPEN), Supported by the European Society of Paediatric Research (ESPR). J Pediatr Gastroenterol Nutr 2005;41 (Suppl 2):S1-87
  3. NICE: National Collaborating Centre for Acute Care. Nutrition suport in adults: Oral nutrition support, enteral tube feeding and parenteral nutrition. Methods evidence and guidance. London: 2006. Disponível em: https://www.nice.org.uk/guidance/cg32 Acesso em 10 mar. 2023.

 

 

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