Zinco: micronutriente essencial para pacientes em nutrição parenteral
O zinco é o segundo oligoelemento essencial mais abundante no corpo humano (ficando atrás apenas do ferro) e está presente em todos os tecidos do organismo, com especial predominância nos ossos e músculos. Ele exerce inúmeras funções fisiológicas, e é particularmente necessário para o funcionamento do sistema imunológico e para o crescimento.1
Por ser tão importante, observar a ingestão adequada desse oligoelemento também é necessário nas pessoas que recebem nutrição parenteral. Esses pacientes estão mais suscetiveis à deficiência do mineral e a serem afetados pelas suas consequências clínicas. Assim, as diretrizes nutricionais recomendam o fornecimento de zinco desde o início da nutrição parenteral.1
Neste artigo, vamos abordar a importância do zinco para os pacientes que recebem nutrição parenteral. Confira a seguir.
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Papel do zinco no organismo
O zinco participa de diversos processos, que podem ser divididos em catalíticos (ou seja, acelaram reações químicas no organismo), estruturais (são parte formadora da disposição de proteínas e enzimas) e regulatórios (atuando, por exemplo, na ação de hormônios, síntese proteica e divisão celular)1.
Zinco na nutrição parenteral
A oferta de zinco ao paciente que recebe nutrição parenteral é amplamente recomendada para prevenir quadros de deficiência que poderiam prejudicar o estado geral de saúde, bem como para garantir que tenham a disponibilidade necessária do nutriente para o funcionamento ideal do metabolismo.1
O zinco é fundamental para que esses pacientes, por exemplo, possam desempenhar adequadamente processo essenciais como cicatrização de feridas, restauração do balanço positivo de nitrogênio no pós-operatório e defesa imunológica contra sepse1.
Também é importante entender que essas pessoas têm maior risco de deficiência por estarem expostas a um conjunto de fatores, que podem se apresentar simultaneamente, como no quadro a seguir.1
Fatores que predispõem à deficiência de zinco em pacientes que recebem nutrição parenteral1
Fator | Causas subjacentes |
Deficiência preexistente | Baixa ingestão de zinco, perda de apetite, aumento da demanda para crescimento, gravidez ou lactação. |
Absorção diminuída | Área de superfície de absorção diminuída, inibidores dietéticos (ácido fítico, ferro), má absorção, doença inflamatória intestinal. |
Perdas do trato gastrointestinal | Diarreia, fístulas |
Perda urinária | Infusão de cisteína, sepse, medicamentos. |
Oferta diminuída | Formação de complexo em solução de nutrição parenteral, aderência às linhas do sistema de infusão. |
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Pediatria
O artigo “Zinc: Physiology, Deficiency, and Parenteral Nutrition” explica que bebês prematuros também correm risco de deficiência porque é no último trimestre da gravidez que a maior parte do zinco é transferida da mãe para o feto. Da mesma forma, recém-nascidos submetidos a cirurgias são mais suscetíveis devido ao estresse operatório, que aumenta as perdas urinárias de zinco.2 Além disso, a deficiência de zinco ocorre em 67% das crianças com insuficiência intestinal.3 A deficiência em neonatos pode comprometer seu crescimento e funcionamento do sistema imunológico.1
Suplementação
A melhor forma de ter acesso ao zinco é por via oral ou enteral. No entanto, isso pode não ser possível por uma série de fatores e, nesses casos, é importante garantir a oferta de zinco pela via parenteral.
As recomendações diárias de zinco parenteral, no entanto, são diferentes da ingestão dietética por alimentação oral, pois o paciente em nutrição parenteral pode ter uma necessidade maior do elemento devido aos fatores listados no quadro anterior, como deficiência mineral pré-existente, bem como presença de doença que aumente a perda ou demande maior consumo de zinco.
A quantidade de zinco ofertada a cada paciente, portanto, varia de acordo com a avaliação do médico, que pode usar como referências as diferentes propostas que atualmente existem em debate, como listado a seguir.
- American Gastroenterological Association – 2,5-4 mg (38-61 μmol).3
- Força-tarefa para a Revisão de Práticas de Segurança da Nutrição Parenteral da ASPEN – 2,5-5 mg (trata-se de uma aproximação).4
Poderíamos citar recomendações para outras condições igual fiz na tabela sabe? Ou mesmo o compêndio da BRASPEN.
- Outras recomendações: aumentar a oferta de zinco proporcionalmente ao volume gastrointestinal perdido em pessoas com perdas fecais aumentadas:
- Pacientes com diarreia, mas intestino delgado intacto, perdem 15,2 mg de Zn por litro de líquido entérico.5
- Pacientes com síndrome do intestino curto perdem 3,6 mg de Zn por litro.5
- 12 mg de Zn devem ser adicionados por litro perdido na diarreia, estoma ou fístula.6
- Pacientes que recebem nutrição parenteral domiciliar: 3 a 15 mg, a depender da presença ou não da síndrome do intestino curto7
- Trauma ou sepse: adicional de 2 mg / dia durante o catabolismo agudo.5
- Pacientes em risco de síndrome de realimentação: dose de ataque de 10-30mg/ dia, seguida pela dose de manutenção de 2,5-5mg/ dia.8
- Em crianças, as necessidades de Zn dependem da taxa de crescimento:
- Bebês requerem mais Zn por quilo de peso corporal do que adultos.
- Bebês prematuros: 400 μg / kg / dia1,2
- Bebês a termo (< 3 meses de idade): 250 μg / kg / dia1,2
- Bebês a termo (> 3 meses de idade): 100 μg / kg / dia1,2
- Crianças: 50 μg / kg / dia (máximo, 5000 μg / dia).1
- Quando a nutrição parenteral é complementar em vez de total, ou quando sua duração é limitada a até 4 semanas, o zinco é o único traço elemento que deve ser administrado. Outros oligoelementos não são considerados necessário até 2 semanas de idade. Como em adultos, a individualização de suplementação pode ser apropriada.1
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Referências
- Livingstone, C. Zinc: Physiology, Deficiency, and Parenteral Nutrition Nutrition in Clinical Practice, 2015 Jun;30(3):371-82. American Society for Parenteral and Enteral Nutrition. Disponível em: https://nutricion.sochipe.cl/subidos/catalogo3/zinc.pdf
- Burjonrappa SC, Miller M. Role of trace elements in parenteral nutrition of the surgical neonate. J Pediatr Surg. 2012;47:760-771.
- Koretz RL, Lipman TO, Klein S. AGA technical review on parenteral nutrition. Gastroenterology. 2001;121:970-1001.
- Task Force for the Revision of Safe Practice for Parenteral Nutrition; Mirtallo J, Canada T, Johnson D, et al. Safe practices for parenteral nutrition. J Parenter Enteral Nutr. 2004;28:S52-S57.
- Sriram K, Lonchyna VA. Micronutrient supplementation in adult nutrition therapy: practical considerations. J Parenter Enteral Nutr. 2009;33:548-562.
- Jeejeebhoy K. Zinc: an essential trace element for parenteral nutrition. Gastroenterology. 2009;137:S7-S12.
- Btaiche IF, Carver PL, Welch KB. Dosing and monitoring of trace elements in long term home parenteral nutrition patients. J Parenter Enteral Nutr. 2011;35:736-747. 98. Greene HL, Hambidge KM.
- Boateng AA, Sriram K, Meguid MM, Crook M. Refeeding syndrome: treatment considerations based on collective analysis of literature case reports. Nutrition. 2010;26:156-167.