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Qual o papel do ômega-3 nas emulsões lipídicas que compõem a nutrição parenteral?

Já há um volume suficiente de evidências apontando para os benefícios do ômega-3 nas emulsões lipídicas que compõem a nutrição parenteral. Entre outros aspectos, esse tipo de ácido graxo é uma fonte essencial de energia para o organismo e pode ser encontrado em formulações que levam óleo de peixe em sua composição.

Portanto, vale relembrar de que forma a fonte de lipídio escolhida para a nutrição parenteral traz características diferentes às fórmulas e como opções com  ômega-3 podem oferecer benefícios nos desfechos clínicos de paciente recebendo essa forma de suporte.

Quais são as funções das emulsões lipídicas na nutrição parenteral?

Como acontece em outras vias para nutrição, a formulação de nutrição parenteral também tem nos lipídios um macronutriente importante na sua composição. Ele é capaz de fornecer a energia e nutrientes necessários em fases importantes da recuperação ou durante o tratamento de um paciente.

As emulsões lipídicas para a nutrição parenteral são formulações compostas a partir de diferentes tipos de gordura. Óleos de soja, oliva, coco ou peixe são alternativas bastante utilizadas, mas não necessariamente em conjunto. Nesse ponto é sempre necessário ressaltar que a fonte de lipídios afeta diretamente a composição da fórmula.

Por isso é importante conhecer as funcionalidades dos ômegas 3, 6 e 9, de fosfolipídios e triglicerídeos de cadeia média (TCM) como parte da nutrição parenteral. Na prática, tais diferenças podem resultar em alterações em fatores oxidativos, imunossupresivos e inflamatórios1.  Assim sendo, o aporte de emulsões lipídicas pode ter papel relevante na evolução clínica dos pacientes, por uma série de aspectos.

Além disso, os lipídios também são componentes estruturais essenciais das membranas celulares, garantindo a integridade dessas estruturas2. Adicionalmente, eles funcionam ainda como precursores de mediadores bioativos, regulam a expressão de uma variedade de genes e modulam vias de sinalização celular (na apoptose, na inflamação e nas respostas imunes mediadas por células)3.

 

Por fim, as emulsões lipídicas têm alta densidade energética1,2,3. Ou seja, uma pequena quantidade oferece um alto aporte de calorias.  Com isso, a introdução delas na formulação de nutrição parenteral contribui para reduzir a oferta de glicose, resultando em menor risco de hiperglicemia e de prejuízo da função hepática1.

As emulsões lipídicas são relevantes ainda quando se leva em conta a necessidade do fornecimento de ácidos graxos essenciais e de vitaminas lipossolúveis3.

O que é o ômega-3 e que funções ele desempenha no organismo?

Emulsões lipídicas com óleo de peixe costumam ser ricas em ômega-3. Com a evolução das emulsões lipídicas na parenteral, tal componente vem se tornando um item essencial nas fórmulas mais modernas, em contraposição àquelas desenvolvidas com óleo de soja ou com misturas de óleo de soja com TCM ou com óleo de oliva4.

De toda a forma, já se sabe que muitos dos compostos presentes no ômega-3  ajudam a modular a resposta imune, reduzindo a produção de citocinas e outros marcadores pró-inflamatórios5. Tal característica pode ser extremamente relevante para pacientes em risco de sepse, por exemplo5.O ácido eicosapentaenoico (EPA) e o ácido docosaexaenoico (DHA) fornecidos pelo óleo de peixe são também capazes de inibir vários aspectos do processo de inflamação5.

Nesse sentido, uma revisão de 49 artigos de ensaios clínicos controlados e randomizados sobre o assunto mostrou que fórmulas de nutrição parenteral enriquecidas com ômega-3 reduzem o risco de infecção (em 40%) e sepse (em 56%) quando comparadas às alternativas sem tal componente6. Além disso, esses pacientes permaneciam até dois dias a menos em ambiente de terapia intensiva6.

Saiba mais: O que a BRASPEN diz sobre o uso de ômega-3 por via parenteral?

 

Por que emulsões lipídicas com ômega-3 podem ser uma opção e mais moderna na nutrição parenteral?

O tema desse tópico orienta muitas pesquisas na área e compõe atualmente o desenho de vários estudos. Eles tentam relacionar a composição específica de cada emulsão lipídica com melhores desfechos clínicos para pacientes que possuem indicação de nutrição parenteral. Exemplo disso são os resultados de um estudo publicado em 2023, na Clinical Nutrition4.

A revisão sistemática comparou resultados em quatro grupos de pacientes, conforme a composição da emulsão lipídica utilizada no estudo:  com óleo de peixe (como parte predominante da emulsão, mas poderiam conter outros óleos como soja, TCM e oliva), com óleo de oliva e soja, com TCM e óleo de soja e óleo de soja puro4. No caso das doses de óleo de peixe, os aportes fornecidos dos estudos contribuíam, em média, com entre 10% e 20% da dosagem diária de lipídios.

Foram avaliados cinco desfechos diferentes dos pacientes hospitalizados que participaram dos estudos analisados4:

  • Risco de infecção;
  • Risco de sepse;
  • Tempo de permanência na UTI;
  • Tempo de permanência no hospital;
  • Mortalidade

A partir da análise estatística das informações coletadas, foi possível concluir que emulsões lipídicas à base de óleo de peixe apresentaram resultados superiores em comparação com todas as demais alternativas analisadas nos desfechos estudados4.

Um dado importante sobre esse estudo é a quantidade de óleo de peixe ofertada. Ela seguiu a recomendação das diretrizes da European Society for Clinical Nutrition and Metabolism (Espen) para paciente crítico: 0,1g/kg/dia a 0,2g/kg/dia de óleo de peixe7.

Em suma, tais resultados reforçam, mais uma vez, a relevância clínica do ômega-3 nas emulsões lipídicas para pacientes recebendo nutrição parenteral. De todo modo, qualquer abordagem deve ser proposta de forma personalizada, com o acompanhamento de uma equipe especializada capaz de identificar as necessidades e monitorar os resultados obtidos.

Aproveite e saiba mais sobre o papel do óleo de peixe na nutrição do paciente crítico.

 

 

Referencias

 

  1. Waitzberg DL, Torrinhas RS. The Complexity of Prescribing Intravenous Lipid Emulsions. World Rev Nutr Diet. Basel, Karger, 2015, vol 112, pp 150–162. In: Calder PC, Waitzberg DL, Koletzko B (eds): Intravenous Lipid Emulsions..
  2. Martindale RG, Berlana D, Boullata JI, Cai W, Calder PC, Deshpande GH, et al. Summary of proceedings and expert consensus statements from the international summit “lipids in parenteral nutrition. J Parenter Enter Nutr 2020;44(Suppl 1):S7e20. Disponível em: <https://aspenjournals.onlinelibrary.wiley.com/doi/10.1002/jpen.1746> Acesso em 29 de janeiro de 2024.
  3. Klek S. Omega-3 fatty acids in modern parenteral nutrition: a review of the current evidence. J Clin Med 2016;5. Disponível em: <https://www.mdpi.com/2077-0383/5/3/34> Acesso em 29 de janeiro de 2024.
  4. Pradelli L., Mayer K., Klek S., Rosenthal M. D., Povero M., Heller A. R., & Muscaritoli M. (2023). Omega-3 fatty acids in parenteral nutrition–A Systematic Review with Network Meta-Analysis on clinical outcomes. Clinical Nutrition. Disponível em: <https://www.clinicalnutritionjournal.com/article/S0261-5614(23)00037-7/fulltext > Acesso em 29 de janeiro de 2024.
  5. Calder PC. Marine omega-3 fatty acids and inflammatory processes: Effects, mechanisms and clinical relevance. Biochim Biophys Acta. 2015 Apr;1851(4):469-84. Disponível em: <https://linkinghub.elsevier.com/retrieve/pii/S1388-1981(14)00165-6> Acesso em 16 de janeiro de 2024.
  6. Pradelli L., Mayer K., Klek S., Omar Alsaleh A. J., Clark R. A., Rosenthal M. D., … & Muscaritoli M. (2020). ω‐3 fatty‐acid enriched parenteral nutrition in hospitalized patients: systematic review with meta‐analysis and trial sequential analysis. Journal of Parenteral and Enteral Nutrition, 44(1), 44-57. Disponível em: <https://aspenjournals.onlinelibrary.wiley.com/doi/10.1002/jpen.1672> Acesso em 29 de janeiro de 2024.
  7. Singer P., Blaser A. R., Berger M. M., Alhazzani W., Calder P. C., Casaer M. P., … & Bischoff S. C. (2019). ESPEN guideline on clinical nutrition in the intensive care unit. Clinical nutrition, 38(1), 48-79. Disponível em: <https://www.clinicalnutritionjournal.com/article/S0261-5614(18)32432-4/fulltext > Acesso em 29 de janeiro de 2024.

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