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Qual a importância do ômega-3 para pacientes cirúrgicos?

Emulsões lipídicas são parte fundamental de qualquer fórmula de nutrição parenteral. Por meio desse componente, o corpo obtém ácidos graxos essenciais capazes de contribuir com o aporte energético e a manutenção das estruturas celulares1. Isso reforça a necessidade de entender melhor quais os benefícios dos ácidos graxos da família do ômega-3 para pacientes cirúrgicos.

Nesse cenário, estudos vêm demonstrando que introdução do ômega-3 pode aumentar a estabilidade da membrana celular, regular a função imunológica, contribuir na inibição de crescimento tumoral, bloquear a reação inflamatória excessiva, além de reduzir a ocorrência da síndrome da resposta inflamatória sistêmica, da síndrome de disfunção de múltiplos órgãos e de complicações infecciosas1,2.

 

Qual o papel das emulsões lipídicas na nutrição parenteral?

Cada vez mais se compreende qual a contribuição das emulsões lipídicas na oferta calórica e na manutenção de vias metabólicas essenciais da fisiologia humana3. Dessa forma, em tais circunstâncias, os lipídios atuam4-6:

 

  • Na composição dos fosfolipídios da membrana celular;
  • Na veiculação das vitaminas lipossolúveis;
  • No aporte de ácidos graxos essenciais;
  • Como precursores de mediadores bioativos importantes, como eicosanoides, esteroides e hormônios;
  • Como reguladores de expressão gênica e moduladores de apoptose;
  • Na diminuição da osmolaridade das fórmulas de nutrição parenteral, essencial para administração em infusões periféricas;
  • Como importante fonte de energia, particularmente em pacientes com restrição de líquidos.

 

Considere sempre que os ácidos graxos presentes nas emulsões lipídicas podem ser classificados de acordo com vários aspectos. Entre eles estão a estrutura bioquímica, o comprimento da cadeia, a posição e o número de duplas ligações e sua essencialidade para o organismo humano7.

Por muito tempo, o óleo de soja foi a principal escolha como fonte de lipídios na nutrição parenteral. No entanto, hoje em dia alternativas estão disponíveis, incluindo o óleo de peixe, o óleo de oliva e os triglicerídeos de cadeia média, entre outros7.

Ademais, outros microcomponentes podem estar presentes nas emulsões lipídicas. Entre eles estão os fitosteróis, o tocoferol, emulsificantes e a vitamina K. Eles podem conferir outras características funcionais ao produto3.

 

Veja também: Entenda melhor o que é o ômega-3 e saiba mais sobre seu papel nutricional

 

Quais são as indicações de uso desses componentes nos pacientes cirúrgicos?

Um volume cada vez maior de evidências sustenta que as diferenças na composição de ácidos graxos das emulsões lipídicas influenciam nos resultados clínicos de pacientes que necessitam de nutrição parenteral em diferentes circustâncias8.

Desse modo, nos tópicos abaixo estão listadas algumas das principais diretrizes para o uso desse recurso em pacientes cirúrgicos9:

 

  • Nesses pacientes, as emulsões lipídicas devem ser parte indispensável da nutrição parenteral;
  • Há evidências de que emulsões lipídicas com óleo de peixe oferecem vantagens em relação àquelas sem esse nutriente para pacientes que precisam de nutrição parenteral;
  • Quando a nutrição parenteral for necessária, é importante sempre considerar o aporte de óleo de peixe;
  • As doses de emulsões lipídicas intravenosas em pacientes cirúrgicos adultos não devem ultrapassar 1,5g/kg/dia (incluindo fontes lipídicas não nutricionais);
  • Recomenda-se optar por emulsões lipídicas contendo entre 0,1e 0,2 g/kg/dia de óleo de peixe;
  • Níveis séricos de triglicérides não devem exceder 400 mg/dL durante o uso de nutrição parenteral com emulsão lipídica.

 

Além disso, é importante considerar que a introdução da nutrição parenteral deve se dar sempre que o paciente cirúrgico for incapaz de atingir 60% de suas necessidades nutricionais em energia e proteínas através da via oral e/ou enteral dentro de 5 dias ou quando houver alto risco nutricional9.

 

Quais os possíveis benefícios do ômega-3 para pacientes cirúrgicos?

Com tudo isso ma metanálise de pesquisadores chineses publicada em 2018 abordou os possíveis benefícios do óleo de peixe (uma fonte de lipídio rica em ômega-3)  pacientes no pós-operatório de neoplasias malignas gastrointestinais1.

Em tal contexto, foram reunidos os dados de 16 ensaios clínicos randomizados sobre nutrição parenteral, com 1008 pacientes divididos em dois grupos: aqueles recebendo ômega-3 e outros sem essa intervenção1. Esses indivíduos tiveram, nos diferentes estudos incluídos na metanálise, indicadores de inflamação e resposta imune analisados.

Na conclusão, os autores indicam que a intervenção precoce com emulsões lipídicas contendo ômega-3 melhora os indicadores pós-operatórios de função imune, reduz reação inflamatória e melhora a recuperação após a cirurgia1. Além disso, essa composição de emulsão pode contribuir para melhorar a supressão imune induzida pela introdução da nutrição parenteral ou pelo próprio tumor1.

Na prática, esses resultados reforçam a importância do ômega-3 para pacientes cirúrgicos, sobretudo na regulação da função imune e da resposta inflamatória. Logo, isso pode ser importante para reforçar a recomendação da introdução desse componente nas emulsões lipídicas diante da necessidade do suporte da nutrição parenteral.

 

Aproveite e veja agora o que a Braspen diz sobre o uso do ômega-3 na nutrição parenteral.

 

Referências:

  1. Zhao Y, Wang C. Effect of ω-3 polyunsaturated fatty acid-supplemented parenteral nutrition on inflammatory and immune function in postoperative patients with gastrointestinal malignancy: A meta-analysis of randomized control trials in China. Medicine (Baltimore). 2018. Disponível em: < https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pmc/articles/PMC5916652/pdf/medi-97-e0472.pdf> Acesso em 08 de maio de 2024.
  2. Mayer K, Seeger W. Fish oil in critical illness. Curr Opin Clin Nutr Metab Care. 2008;11:121–7. Disponível em: <https://journals.lww.com/co-clinicalnutrition/abstract/2008/03000/fish_oil_in_critical_illness.7.aspx> Acesso em 21 de março de 2024.
  3. Sadu Singh BK, Narayanan SS, Khor BH, Sahathevan S, Abdul Gafor AH, Fiaccadori E, et al. Composition and functionality of lipid emulsions in parenteral nutrition: examining evidence in clinical applications. Front Pharmacol. 2020;11:476933. Disponível em: <https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pmc/articles/PMC7201073/> Acesso em 08 de maio de 2024.
  4. Adolph M, Heller AR, Koch T et al. Lipid emulsions – guidelines on parenteral nutrition, chapter 6. Ger Med Sci. 2009;7:Doc22. Disponível em: <https://www.egms.de/static/en/journals/gms/2009-7/000081.shtml> Acesso em 08 de maio de 2024.
  5. Grimble RF. Fatty acid profile of modern lipid emulsions: scientific considerations for creating the ideal composition. Clin Nutr Suppl. 2005;1:9-15. Disponível em: <https://www.infona.pl/resource/bwmeta1.element.elsevier-2a506952-71a3-3acd-92cc-d58d3e8a8177> Acesso em 21 de março de 2024.
  6. Wanten GJ, Calder PC. Immune modulation by parenteral lipid emulsions. Am J Clin Nutr. 2007;85:1171-1184. Disponível em: <https://www.sciencedirect.com/science/article/pii/S0002916523280521?via%3Dihub> Acesso em 08 de maio de 2024.
  7. Fresenius Kabi. Compêndio de Nutrição Parenteral. Disponível em: <https://www.fresenius-kabi.com/br/documents/compendio_10_05_2018.pdf> Acesso em 21 de março de 2024.
  8. Calder PC. Lipids for intravenous nutrition in hospitalized adult patients: a multiple choice of options. Proc Nutr Soc. 2013;72(3):263-276. Disponível em: <https://www.cambridge.org/core/journals/proceedings-of-the-nutrition-society/article/lipids-for-intravenous-nutrition-in-hospitalised-adult-patients-a-multiple-choice-of-options/4A80AFDA65F7C734A691BB393F2D48EE> Acesso em 08 de maio de 2024.
  9. Martindale RG, Berlana D, Boullata JI, Cai W, Calder PC, Deshpande GH, et al. Summary of proceedings and expert consensus statements from the international summit “Lipids in Parenteral Nutrition”. J Parenter Enteral Nutr. 2020;44:S7-S20. Disponível em: <https://aspenjournals.onlinelibrary.wiley.com/doi/10.1002/jpen.1746> Acesso em 08 de maio de 2024.

 

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