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Nutrição Parenteral em Pacientes com Câncer: Quando e Como Indicar

Todos os anos, milhões de pessoas são diagnosticadas com algum tipo de tumor, o que faz com que o câncer seja um dos principais problemas de saúde pública no mundo e uma das principais causas de morte precoce (1).

Muitas vezes, no ambiente hospitalar, pacientes oncológicos precisam receber suporte para alcançar suas metas nutricionais, e prevenir as consequências da desnutrição. A seguir, entenda como conduzir a nutrição parenteral em pacientes com câncer.

Estado nutricional do paciente com câncer

A desnutrição é uma condição comum entre pacientes com câncer, com maior frequência em tumores de pâncreas, colorretal, esofágico e gástrico, e particularmente elevada em estágios avançados e terminais (2).

As causas associadas à desnutrição em câncer variam, desde alterações provenientes do tumor, até os efeitos colaterais dos tratamentos (2). De qualquer modo, estima-se que até 10 a 20% dos pacientes oncológicos morram em decorrência das consequências da desnutrição, e não do tumor em si (3).

Neste cenário, em que a desnutrição compromete diretamente o prognóstico e a qualidade de vida, é imprescindível sua identificação e manejo precoce.

Segundo as diretrizes de 2021 da Sociedade Europeia de Nutrição Clínica e Metabolismo (ESPEN), para detectar distúrbios nutricionais em estágio precoce, recomenda-se a avaliação regular da ingestão alimentar, variação de peso e IMC, iniciando no momento do diagnóstico do câncer e sendo repetida conforme a estabilidade da situação clínica (3).

Nutrição parenteral em pacientes com câncer: principais recomendações

Quando se indica nutrição parenteral em câncer?

A escolha da via de nutrição no paciente com câncer depende de diversos fatores, como mostra a figura abaixo.

Virizuela et al., 2018.

 

De modo geral, a nutrição parenteral em câncer é indicada quando o uso do trato gastrointestinal não é possível e/ou a nutrição oral e/ou enteral são insuficientes ou inviáveis (2, 3).

Alguns exemplos incluem (3):

  • Insuficiência intestinal grave devido à enterite actínica;
  • Obstrução intestinal crônica;
  • Síndrome do intestino curto;
  • Carcinomatose peritoneal;
  • Quilotórax.

Os riscos e prejuízos, assim como a possível contraindicação da nutrição artificial, devem ser ponderados frente aos possíveis benefícios fisiológicos e/ou psicológicos, para o paciente e sua família. Como regra geral, considera-se que os riscos da NP superam seus benefícios em pacientes com prognóstico inferior a dois meses (3).

Quais são as necessidades energéticas e nutricionais em câncer?

Energia: 25 e 30 kcal/kg/dia, se não forem realizadas avaliações individualizadas (calorimetria indireta) (2, 3).

Proteína: superior a 1 g/kg/dia e, se possível, chegue até 1,5 g/kg/dia (3). Podem ser aumentadas para 2 g/kg/dia se houver catabolismo proteico muito alto (2).

Vitaminas e minerais: quantidades aproximadamente equivalentes às recomendações diárias para a população geral. O uso de micronutrientes em altas doses na ausência de deficiências não é recomendado (3).

Nutrientes especiais: em pacientes com câncer avançado em quimioterapia e em risco de perda de peso ou desnutrição, sugere-se a suplementação com ômega-3 ou óleo de peixe para estabilizar ou melhorar o apetite, a ingestão alimentar, a massa magra e o peso corporal (3).

Ademais, em pacientes com câncer e perda de peso que apresentem resistência à insulina, recomenda-se o aumento da proporção de energia proveniente de gorduras em relação à proveniente de carboidratos. Essa medida visa aumentar a densidade energética da dieta e reduzir a carga glicêmica (3).

Por fim, as necessidades de água e sódio dos pacientes também precisam ser levadas em consideração. Elas devem ser reduzidas abaixo dos valores normais (2).

Vias de administração

As vias de administração da nutrição parenteral (NP) em pacientes com câncer são as mesmas utilizadas em outros pacientes (2).

No entanto, em relação ao acesso central, o Port-a-Cath é frequentemente o dispositivo de escolha nesse grupo, por ser subcutâneo, discreto e adequado para uso prolongado, facilitando o acesso repetido para quimioterapia e NP. Porém, em suporte domiciliar, é necessário o uso de agulha especial (Gripper ou Huber), trocada semanalmente (2).

Conclusão

Em suma, a NP deve ser considerada em pacientes com câncer quando a via oral ou enteral não for viável ou suficiente. Sua indicação exige avaliação criteriosa do estado clínico, do prognóstico e das necessidades nutricionais individuais, visando sempre equilibrar riscos e benefícios dentro do plano terapêutico oncológico.

 

 

 

Referências:

1 – Estimativa, INCA (2020). Incidência de Câncer no Brasil.[sl: sn]. Disponível em: https://www.inca.gov.br/sites/ufu.sti.inca.local/files//media/document//estimativa-2020-incidencia-de-cancer-no-brasil.pdf

2 – Virizuela JA, Camblor-Álvarez M, Luengo-Pérez LM, Grande E, Álvarez-Hernández J, Sendrós-Madroño MJ, Jiménez-Fonseca P, Cervera-Peris M, Ocón-Bretón MJ. Nutritional support and parenteral nutrition in cancer patients: an expert consensus report. Clin Transl Oncol. 2018 May;20(5):619-629.

3 – Muscaritoli M, Arends J, Bachmann P, Baracos V, Barthelemy N, Bertz H, Bozzetti F, Hütterer E, Isenring E, Kaasa S, Krznaric Z, Laird B, Larsson M, Laviano A, Mühlebach S, Oldervoll L, Ravasco P, Solheim TS, Strasser F, de van der Schueren M, Preiser JC, Bischoff SC. ESPEN practical guideline: Clinical Nutrition in cancer. Clin Nutr. 2021 May;40(5):2898-2913.

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