Confira as respostas para algumas dúvidas frequentes sobre nutrição parenteral
É comum que a necessidade de terapia nutricional via parenteral gere uma série de questionamentos. Isso vale tanto para a administração em ambiente hospitalar quanto domiciliar. Por isso, é fundamental conhecer as respostas para algumas das dúvidas frequentes sobre nutrição parenteral.
Como você verá, a maior parte das questões diz respeito às vias de acesso, o manejo correto e o armazenamento adequado das fórmulas utilizadas. Desse modo, é possível garantir a segurança e a eficiência da intervenção. As respostas foram desenvolvidas com base nas diretrizes e recomendações das principais sociedades que estudam sobre o tema na nossa área.
Como escolher a via correta para inserção do cateter?
A administração da nutrição parenteral presume a oferta de nutrientes via acesso venoso, ou seja, diretamente ao sistema circulatório do paciente. Um equipo é conectado ao cateter e transfere o conteúdo das bolsas com as fórmulas de nutrição parenteral para o organismo do paciente. O acesso venoso pode se dar por via central ou periférica1.
Portanto, os principais critérios para escolha da via de acesso são: condição do paciente, acessibilidade ao sistema venoso central, composição e características da fórmula administrada (em especial a osmolaridade) e tempo de duração da terapia nutricional2-4.
Posso aquecer a nutrição parenteral antes da administração ao paciente?
Não é recomendado submeter nenhuma bolsa de nutrição parenteral a qualquer fonte de calor, como forno micro-ondas ou banhos-maria. É normal que a composição desse tipo de solução seja altamente sensível e o calor só acelera a degradação, inutilizando o material.
Todo o armazenamento e transporte das soluções deve ser feita conforme orientação do fabricante, descrita em bula5,6. Caso contrário, o conteúdo deverá ser descartado, sob risco de degradação dos componentes e contaminação.
Leia também: quais os cuidados essenciais no manuseio e na administração da nutrição parenteral?
Como armazenar a nutrição parenteral?
Como já ficou claro na resposta anterior, as condições de armazenamento são essenciais para a manutenção da integridade das fórmulas de nutrição parenteral. Por isso, antes da dispensação e administração, fórmulas industrializadas devem ser armazenadas em temperatura inferior a 25°C e nunca congeladas6. O envoltório da embalagem deve ser removido apenas na hora do uso.
Ademais, para o transporte, devem ser disponibilizadas caixas térmicas, também exclusivas para esse fim. Nesse intervalo, a temperatura deve ser mantida entre 2° e 20°, por no máximo 12 horas 5,6. Em nenhuma hipótese a temperatura de armazenamento e transporte deve superar os 25° C5.6. No mais, deve haver cuidado redobrado com as condições assépticas das bolsas manipuladas 8,9
Qual a validade das fórmulas de nutrição parenteral?
Toda fórmula de nutrição parenteral industrializada deve indicar de forma clara no rótulo qual o prazo de validade do produto10. De todo modo, vale sempre reforçar que tais indicações levam em conta o armazenamento, o transporte e a manipulação adequada das fórmulas.
Além disso, a partir do momento em que a fórmula é preparada para a administração, a validade indicada pelo fabricante é modificada. Assim, esse é um aspecto ao qual o responsável por essa etapa deve acompanhar com cuidado, conferindo e respeitando as indicações apontadas em todos os componentes fornecidos ao paciente10.
As fórmulas devem ser protegidas da luz?
Para as fórmulas de nutrição parenteral para adultos, não há consenso sobre a necessidade de proteger da ação da luz. Todavia, caso o paciente seja prematuro, existe a recomendação da fotoproteção para bolsas de nutrição manipuladas10.
O impacto da ação da luz depende, sobretudo, da composição da fórmula. Alguns componentes são mais suscetíveis à fotodegradação10. Com isso, é possível que esse comprometimento possa fazer com que surjam produtos da degradação nocivos aos pacientes, particularmente os neonatos11.
Por outro lado, um estudo publicado em 2019 mostrou que bolsas de EV (com ou sem proteção contra UV), garantem estabilidade fisioquímica das fórmulas por períodos de até 8 dias em temperaturas em torno de 4°C sem exposição à luz. Para fórmulas pediátricas em temperatura ambiente com exposição à luz, o período é de 24 horas12.
Entretanto, é claro que essas são apenas algumas das dúvidas frequentes sobre nutrição parenteral. Embora fundamental em diversos quadros, essa intervenção é complexa e exige uma série de cuidados, conhecimento e segurança, inclusive, para reduzir o risco de complicações e nutrir nosso paciente da melhor forma e no momento certo.
Aproveite e veja o que você precisa saber sobre as indicações de nutrição parenteral.
Referências
1. FRESENIUS KABI. Compêndio de Nutrição Parenteral. 2018. Disponível em: https://www.fresenius-kabi.com/br/documents/compendio_10_05_2018.pdf Acesso fev. 2023.
2. Pittiruti M, Hamilton H, Bifi R, Macie J, Pertkiewicz M. ESPEN Guidelines on Parenteral Nutrition: Central Venous Catheters (access, care, diagnosis and therapy of complications). Clin Nutr. 2009;28:365- 377. Disponível em: https://www.clinicalnutritionjournal.com/article/S0261-5614(09)00078-8/fulltext Acesso fev. 2023.
3. Jauch KW, Schregel W, Stanga Z et al. Access technique and its problems in parenteral nutrition – Guidelines on Parenteral Nutrition, Chapter 9. German Medical Science. 2009;7:1-18. Disponível em: https://www.egms.de/static/en/journals/gms/2009-7/000078.shtml Acesso fev. 2023.
4. NICE: National Collaborating Centre for Acute Care. Nutrition suport in adults: Oral nutrition support, enteral tube feeding and parenteral nutrition. Methods evidence and guidance. London: 2006. Disponível em: https://pubmed.ncbi.nlm.nih.gov/21309138/ Acesso dez. 2022.
5. Gonçalves, R. C., de Matos, L. B. N., Cunha, H. F. R., Totti, F., Kawagoe, J. Y., Martin, L. G. R., … & Correia15, M. I. T. D. Manual BRASPEN de Competências Relacionadas à Dispensação e à Administração de Nutrição Parenteral. Braspen J, 3, 217-232. Disponível em: http://arquivos.braspen.org/journal/jul-ago-set-2019/artigos/1-SeparataManualGrafica.pdf Acesso em 13 de março de 2023
6. FRESENIU KABI. Smoflipid 20%. Emulsão Injetável. Bula Modelo Padrão. Disponível em: https://www.fresenius-kabi.com/br/documents/Smoflipid20__fev21PS.pdf Acesso fev. 2023.
7. Carvalho, A. P. P. F., Modesto, A. C. F., Oliveira, C. P., Penhavel, F. A. S., Vaz, I. M. F., Vieira, L. L., … & Melo, V. V. (2014). Protocolo de Terapia nutricional enteral e parenteral da Comissão de Suporte Nutricional. Goiânia (GO): Hospital das Clínicas da Universidade Federal de Goiás. Disponível em: https://www.gov.br/ebserh/pt-br/hospitais-universitarios/regiao-centro-oeste/hc-ufg/governanca/comissoes-e-comites/6aManualdeNutricaoParenteraleEnteral.pdf Acesso fev. 2023.
8. Mühlebach S, Franken C, Stanga Z. Practical handling of AIO admixtures – Guidelines on Parenteral Nutrition, Chapter 10. German Medical Science. 2009;7. Disponível em: https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pmc/articles/PMC2795373/ Acesso fev. 2023.
9. Mühlebach S, Driscoll DF, Hardy G. Pharmaceutical aspects of parenteral nutrition support. In: Sobotka L, editor. Basics in Clinical Nutriton. Prague: Galen, 2011: 373-400.
10. Matsuba, C. S. T., Serpa, L. F., Pereira, S. R. M., Barbosa, J. A. G., Corrêa, A. P. A., & Antunes, M. S. (2021). Diretriz BRASPEN de enfermagem em terapia nutricional oral, enteral e parenteral. Braspen J, 36(3), 1-62. Disponível em: https://www.braspen.org/_files/ugd/66b28c_8ff5068bd2574851b9d61a73c3d6babf.pdf Acesso fev. 2023.
11. R. Lipid peroxidation in parenteral nutrition admixtures: prooxidative and antioxidative factors, as well as their clinical significance. Farmacja Polska. 2019;75(11):638-47.
12. Watrobska-Swietlikowska D, MacLoughlin R. The effect of UV-protected ethylene vinyl acetate (EVA) bags on the physicochemical stability of pediatric parenteral nutrition admixtures. Daru. 2019;27(1):255-64. Disponível em: https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pmc/articles/PMC6593020/ Acesso fev. 2023.
