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A importância dos minerais antioxidantes na nutrição parenteral

Além da energia e de outros nutrientes fundamentais para o funcionamento do organismo, é preciso sempre levar em conta o papel dos antioxidantes no paciente crítico que precisa de uma nutrição parenteral.

A nutrição parenteral e a suplementação de micronutrientes (sobretudo de minerais), se devidamente prescritos, contribuem para manutenção do estado nutricional, com o desempenho adequado de diversas funções do metabolismo e uma chance maior de desfechos positivos em diferentes quadros.

 

O papel dos antioxidantes no organismo

É fundamental compreender as funções dos antioxidantes no organismo para reforçar sua importância na nutrição parenteral. Isso passa primeiro por entender a ação dos chamados radicais livres. Em resumo, eles são qualquer tipo de componente com um ou mais elétrons desemparelhados1.

Eles reagem na presença de oxigênio e podem ter origem tanto de fontes externas quanto resultado de processos metabólicos comuns1. A reação dos radicais livres, quando não inativados, pode danificar diferentes moléculas no organismo, incluindo proteínas, carboidratos, lipídios e ácidos nucleicos, prejudicando as células e o organismo como um todo1.

No sentido oposto, os antioxidantes são qualquer componente capaz de conter a ação dos radicais livres e promover o balanço oxidativo1. Assim, sempre que há desequilíbrio entre a presença de radicais livres (pró-oxidantes) e antioxidantes, ocorre o chamado estresse oxidativo1. Em geral, essa condição é secundária em relação a uma doença principal.

No entanto, o estresse oxidativo pode provocar ainda mais dano celular do que a doença primária, ainda mais quando se leva em conta que a capacidade antioxidante do organismo pode ser ainda pior em períodos de estresse catabólico1. Ou seja, quadros de enfermidade, sobretudo graves, devem ser considerados como situações de alto estresse oxiditativo2.

 

Os benefícios dos minerais antioxidantes na nutrição parenteral

É nesse contexto que os antioxidantes na nutrição parenteral desempenham uma função relevante no manejo do estado clínico. Isso é alcançado pela correta administração de determinados micronutrientes (em especial por meio da suplementação de minerais), seguindo orientação das necessidades diárias contidas em diversas diretrizes para públicos específicos de pacientes.

Várias evidências apontam para os resultados negativos devido à deficiência de diversos oligoelementos (e, por consequência, da elevação do estresse oxidativo) em conjunto com complexas interações que envolvem ativação endotelial, coagulopatia, distúrbios na microcirculação, função mitocondrial prejudicada, apoptose aumentada, permeabilidade intestinal aumentada e metabolismo alterado de glicose e proteínas2.

Entre alguns dos problemas mais observados nesse quadro, que é comum pós-sepse e como consequência de permanência em UTI, estão a dificuldade de cicatrização, pior resposta imune, fraqueza muscular e outras disfunções orgânicas2.

 

Saiba mais: Veja qual a importância dos micronutrientes na nutrição parenteral

 

Algumas das indicações gerais para a suplementação de minerais antioxidantes

Diversos minerais têm papel importante e, claro, recomendações específicas para a administração junto à fórmula de nutrição parenteral, conforme indicam as diretrizes da ESPEN3.

Recomendações diárias de minerais com ação antioxidante na NP

conforme diretrizes da ESPEN4

  Nutrição parenteral domiciliar/longo prazo Nutrição Parenteral em situações de necessidades aumentadas
Cromo 10 – 15 µg 15 µg
Ferro 1 mg 1 mg

 

Manganês 55 µg 55 µg
Iodo 130 µg 130 µg
Molibdênio 19 – 25 mg 19 – 25 mg
Flúor 0 – 1 mg 0 – 1 mg
Selênio 60 µg –100 µg 150 µg –200 µg
Zinco 3 mg –5 mg 6 mg –12 mg
Cobre 0,3 mg – 0,5 mg  0,5– 1,0 mg
Adaptado de: Berger MM, Shenkin A, Schweinlin A, Amrein K, Augsburger M, Biesalski HK, … & Cuerda C. (2022). ESPEN micronutrient guideline. Clinical Nutrition, 41(6), 1357-1424.

 

Em todo caso, é preciso levar em conta que a influência dos antioxidantes na nutrição parenteral, inclusive quando se considera a suplementação mineral, pode ser diferente dependendo do estado dos pacientes.

Doentes graves (que podem ter aumento contínuo de perdas gastrointestinais), em terapia de substituição renal contínua, em estado hipermetabólico ou que chegam para o tratamento em condição de depleção, por exemplo, podem precisar de doses mais altas de micronutrientes3.

Assim sendo, algumas condições reforçam a necessidade de conferir o nível sérico de determinados micronutrientes antioxidantes. Exemplos disso são os pacientes já desnutridos, com quadro de alcoolismo crônico, com doença crítica que eleve a demanda por esses componentes ou devido a quadros que favoreçam a retenção de tais oligoelementos4. Por outro lado, identificar possíveis deficiências ainda é um desafio, já que muitos dos métodos são inacessíveis na prática clínica diária4.

Por fim, pode ser necessário também acompanhar a administração desses elementos antioxidantes na nutrição parenteral de longo prazo. Minerais como ferro, manganês e cobre são essenciais ao organismo, mas podem causar quadros de intoxicação se em níveis elevados por muito tempo4. Em outras palavras, a nutrição e reposição com tais elementos é tão fundamental quanto o acompanhamento próximo e contínuo desse paciente, assim como a qualidade dos poliminerais administrados.

 

Aproveite e veja mais sobre a importância do selênio, um mineral essencial na composição da nutrição parenteral.

 

 

Referências

  1. Furst P. Basics in clinical nutrition: Role of antioxidants in nutritional support. ESPEN. 2009;4(3):e105-e107. Disponível em: https://clinicalnutritionespen.com/article/S1751-4991(08)00082-6/fulltext. Acesso em 30 de novembro de 2023.
  2. De Waele E, Malbrain MLNG, Spapen H. Nutrition in sepsis: a bench-to-bedside review. Nutrients. 2020;12(2):395. Disponível em: https://www.mdpi.com/2072-6643/12/2/395. Acesso em 30 de novembro de 2023.
  3. Berger MM, Shenkin A, Schweinlin A, Amrein K, Augsburger M, Biesalski HK, et al. ESPEN micronutrient guideline. Clinical Nutrition. 2022;41(6):1357-1424. Disponível em: https://www.clinicalnutritionjournal.com/article/S0261-5614(22)00066-8/fulltext. Acesso em 30 de novembro de 2023.
  4. BRASPEN. Posicionamento BRASPEN sobre o uso de micronutrientes via parenteral em adultos. Revista Brasileira de Nutrição Clínica. 2021;36(Suppl 1):3-19. Disponível em: https://wdcom.s3.sa-east-1.amazonaws.com/hosting/braspen/journal/2021/journal/jan-mar-2021/artigos/01-Posicionamento-BRASPEN.pdf. Acesso em 11 de maio de 2023 e 30 de novembro de 2023.

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