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Acesso venoso central: o que você precisa saber sobre ele

O acesso venoso é um dos pontos-chave na administração da nutrição parenteral, garantindo a segurança e a eficácia do tratamento. Neste artigo, abordamos os principais tipos de acesso, indicações e cuidados essenciais para uma terapia adequada. Confira!

Acesso venoso periférico

A nutrição parenteral periférica (NPP) consiste na administração de nutrição parenteral por meio de uma veia periférica, geralmente utilizando uma cânula inserida em uma veia superficial do membro superior (1).

Esse tipo de acesso é recomendado para terapias de curto prazo (≤10–14 dias), uma vez que os dispositivos venosos periféricos apresentam baixa confiabilidade e estão frequentemente associados a complicações como flebite e extravasamento (2).

Uma das principais limitações da NPP diz respeito à adequação das veias periféricas, que não suportam soluções de alta osmolaridade. Dessa forma, recomenda-se limitar a osmolaridade a < 900 mOsm/L, a fim de reduzir o risco de complicações (2).

Outro ponto relevante é que a NPP geralmente contém menores concentrações de dextrose e proteína, reduzindo a possibilidade de atender plenamente às necessidades nutricionais do paciente (2).

Por essa razão, esse tipo de acesso é mais indicado para terapias nutricionais suplementares ou como ponte durante períodos de transição, nos quais o estado clínico do paciente não justifica a inserção de um dispositivo de acesso venoso central (2).

Cateter periférico médio

Os cateteres de linha média são dispositivos de acesso venoso inseridos em veias periféricas das extremidades superiores, com a ponta posicionada ao redor da região axilar (2).

Diferentemente dos cateteres periféricos tradicionais, são mais longos e inseridos em veias mais profundas, que podem suportar soluções de maior osmolaridade. Assim, esses cateteres apresentam menores taxas de flebite em comparação aos dispositivos venosos periféricos convencionais (2).

No entanto, apesar dessa vantagem, ainda há risco de flebite, e sua localização mais profunda pode dificultar a detecção de sinais e sintomas dessa complicação (2).

Na tabela abaixo, estão listados os principais pontos entre o cateter periférico tradicional (curto) e o cateter periférico médio (2).

Tipo de cateter Colocação Limitações Vantagens
Cateter periférico curto Inserção periférica percutânea Apenas infusão de baixa osmolaridade, alto risco de flebite Fácil de colocar, custo, menor risco de infecção
Cateter periférico médio Inserção periférica percutânea Não apropriado para infusões > 900 mOsm/L (precisa de acesso central) Duração de 2 a 4 semanas

Acesso venoso central

O acesso venoso central consiste na administração de nutrição parenteral por meio de um cateter cuja ponta se localiza em uma veia central (1). Esse tipo de acesso é amplamente utilizado, sendo necessário em cerca de 8% dos pacientes hospitalizados (3).

Os dispositivos de acesso venoso central permitem a infusão de soluções sem restrição de pH, osmolaridade ou volume, sendo essenciais para a administração de NP hiperosmolar (>900 mOsm/L) (2).

A inserção pode ocorrer nas veias subclávia, jugular interna, femoral, cefálica ou basílica, sendo a veia femoral associada a um maior risco de infecção da corrente sanguínea e trombose (2).

Os VADs centrais podem ser classificados em quatro categorias (2):

  • Cateteres centrais de inserção periférica (PICC)
  • Não tunelizados
  • Tunelizados
  • Implantados

O posicionamento correto do cateter deve ser confirmado antes do início da NP, por radiografia, fluoroscopia ou ultrassonografia (2).

O uso de ultrassom para inserção de PICCs à beira do leito, aliado à orientação por ECG, é uma prática comum e recomendada para reduzir complicações e aumentar a segurança do procedimento (2).

A duração do uso varia conforme o tipo de cateter. Os CVCs não tunelizados são indicados para até três semanas, enquanto os PICCs podem ser utilizados por até três a quatro meses (3, 4). Cateteres tunelizados e implantáveis são opções para uso prolongado, podendo durar anos (3).

Abaixo, estão resumidos os principais pontos dos cateteres de acesso venoso central (2, 4).

Tipo de cateter Colocação Limitações Vantagens
Cateteres centrais de inserção periférica (PICC) Colocação percutânea por meio de uma veia periférica (veia basílica, cefálica ou braquial) Autocuidado difícil, desconfortável por longos períodos, colocação precisa de pessoal treinado, aumenta o risco de trombose venosa profunda Baixo risco de complicações de colocação. Usado em ambientes de cuidados agudos e domiciliares. Fácil de remover. Duração de semanas a meses
Cateter central não tunelizado Veia subclávia, jugular ou femoral Sala de cirurgia ou ambiente hospitalar para colocação Uso de longo prazo, fácil autocuidado
Cateter central tunelizado Subclávia ou jugular (tipos Hickman, Broviac, Hohn) Ambiente hospitalar, pequeno procedimento para remoção Menor risco de infecção, a posição no peito facilita o autocuidado, desconexão facilitada, duração de meses a anos (NP domiciliar)
Implantados Subclávia ou jugular Ambiente hospitalar, procedimento cirúrgico para remoção, acesso à agulha necessário, exigem punção frequente Associado a menor risco de infecção

Que tipo de cateter é recomendado para NP hospitalar e NP domiciliar?

Segundo a Sociedade Brasileira de Nutrição Parenteral e Enteral (BRASPEN), para pacientes hospitalizados, a NP pode ser infundida por cateteres venosos centrais (CVC) não tunelizados, cateteres PICC ou cateteres venosos periféricos (4).

A escolha do tipo de cateter depende de fatores como a estabilidade clínica do paciente, risco de infecção, terapias intravenosas concomitantes, duração prevista e o tipo de fórmula utilizada (2, 4).

Em casos de NP de curta duração (-poucos dias) e com osmolaridade < 900 mOsm/L, cateteres periféricos podem ser utilizados (4).

Já para a NP domiciliar, os cateteres preferenciais são o CVC tunelizado (>3 meses) ou PICC (até 3-4 meses) (4).

Qual é a periodicidade de troca dos cateteres venosos da NP?

Em relação à troca de cateteres venosos, não há recomendação fixa para a substituição de cateteres periféricos com menos de 96 horas, nem para cateteres venosos centrais de forma rotineira (3).

As trocas devem ser realizadas quando houver sinais clínicos de infecção ou mau funcionamento do cateter (3).

Estudos não demonstraram benefícios na redução das taxas de infecção com a substituição programada de cateteres venosos centrais, portanto, estes devem ser mantidos enquanto estiverem funcionais, sem sinais de complicações locais ou sistêmicas. Caso contrário, devem ser removidos prontamente (3).

Conclusão

Em resumo, a escolha do tipo de acesso venoso na nutrição parenteral depende de diversos fatores, como a duração do tratamento, a osmolaridade das soluções e a condição clínica do paciente. Cada tipo de cateter apresenta vantagens e limitações específicas, sendo importante a seleção adequada para garantir a segurança e eficácia do tratamento.

 

 

 

Referências:

1  – Khan A, Laing E, Beaumont A, Wong J, Warrier S, Heriot A. Peripheral parenteral nutrition in surgery – a systematic review and meta-analysis. Clin Nutr ESPEN. 2023 Apr;54:337-348.

2 – Berlana D. Parenteral Nutrition Overview. Nutrients. 2022 Oct 25;14(21):4480.

3 – Kehagias E, Galanakis N, Tsetis D. Central venous catheters: Which, when and how. Br J Radiol. 2023 Nov;96(1151):20220894.

4 – Gonçalves RC, de Matos LBN, Cunha HFR, Totti F, Kawagoe JY, Martin LGR, Correia MITD. Manual BRASPEN de competências relacionadas à dispensação e à administração de nutrição parenteral. BRASPEN Journal. 2023;34(3):217-232.

5 – Matsuba CST, Serpa LF, Pereira SRM, Barbosa JAG, Corrêa APA, de Souza Antunes M, Castro MG. Diretriz BRASPEN de enfermagem em terapia nutricional oral, enteral e parenteral. BRASPEN Journal. 2023;36(3, Supl 3):0-0.

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