W3 na nutrição parenteral
Por: Dra. Maria de Lourdes Teixeira da Silva
Emulsão lipídica (EL) é um importante nutriente usado na Nutrição Parenteral (NP) desde a década de 60. A primeira geração dos lipídios era composta exclusivamente por óleo de soja (OS), como fonte de ácido graxo essencial e fonte energética concentrada. Entretanto, em razão do alto teor de ácido graxo poli-insaturado w-6, poderia se esperar um efeito imunossupressor ou exacerbar a liberação citocinas proinflamatórias. A partir da década de 80 vieram novas emulsões lipídicas, conhecidas como a segunda geração agora com 50% de óleo de coco (OC) rico em triglicerídeo de cadeia média (TCM) e lípides estruturados que reduziram o teor de w-6. Nos anos 90 a terceira geração introduziu o óleo de oliva (OO) e a partir dos anos 2000 houve a inclusão do óleo de peixe (OP), rico em ácido graxo w-3 na mistura de lípides. Dessa forma a razão w-6: w-3 das EL varia conforme o teor alto ou baixo de OP(1).
O teor mais alto pode ser encontrado nas EL com de 100% OP (1:7) e nas EL com 15% OP (2,5:1) enquanto que o mais baixo teor de W3 pode ser encontrado nas EL com 100% OS (7:1) ou EL com OS/OC (7:1) ou EL com OS/OO (9:1) (2).
O OP é fonte de EPA e DHA e o seu potencial imunomodulatório e efeito benéfico na inflamação e resposta imune tem sido avaliado nos últimos anos. A ESPEN(3) recomenda o uso de emulsão lipídica com 0,1 – 0,2g/kg/d de EPA e DHA na nutrição parenteral. O inquestionável benefício clínico necessita de grandes estudos de alta qualidade e metas-análise bem conduzidas.
A tabela abaixo mostra 10 metas-análise que usaram EL com OP e compararam com EL sem OP (OS, OS-TCM, OS-OO). Existem fortes evidências em favor do uso de EL com OP em 8 meta-análises (4,5,6, 7, 8, 9, 10,11). Em 2 meta-análises (12, 13) os resultados não mostraram diferença significativa, mas tinham menos de 400 pacientes. Entretanto, o estudo de Manzanares (2014) (13) passou a ter resultados positivos para o uso de OP na NP quando aumentou número de pacientes (5).
Dentre os principais resultados, destacam-se no paciente cirúrgico e crítico redução da resposta inflamatória, efeito imunomodulador, redução da permanência hospitalar e redução da infecção. Desta forma, mesmo que estudos mais robustos sejam necessários, as evidências indicam benefício clínico com o uso de EL com OP.
A ESPEN, em suas diversas publicações, recomenda o uso de EL com OP em muitos doentes críticos, cirúrgicos e com câncer desde 2009 até suas mais recentes diretrizes de 2017 (3, 14, 15, 16).
Referências Bibliográficas
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14. Singer P,Berger MM, Vanden Berghe G, et al. ESPEN guidelines on parenteral nutrition: Intensive care. Clin Nutr2009;28:387–400. 15. Arends J, Bachmann P, Baracos V, et al. ESPEN guidelines on nutrition in cancer patients. Clin Nutr2017;36:11–48. 16. Weimann A, Braga M, Carli F, et al. ESPEN guideline: clinical nutrition in surgery. Clin Nutr2017;36:623–650.