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Quais são os Principais Indicadores de Qualidade em Terapia Nutricional?

Nas últimas décadas, a terapia nutricional tem demonstrado sua importância, principalmente por contribuir de maneira positiva nos desfechos clínicos de pacientes desnutridos ou em risco de desnutrição. A TN é parte integral do plano terapêutico, e precisa ser bem instituída para que apresente os benefícios desejados (1).

No entanto, muitas vezes, os pacientes têm um plano de intervenção nutricional elaborado, porém não devidamente implementado (1). Nesse sentido, foi criado o conceito de indicadores de qualidade em terapia nutricional (IQTN). A seguir, conheça os principais IQTN e porque eles são importantes para a prática clínica.

O que são indicadores de qualidade em terapia nutricional (IQTN)?

Um indicador é uma medida para avaliar o desempenho de um determinado processo ao longo do tempo (2). Logo, os indicadores de qualidade permitem saber a resposta de um determinado protocolo em relação ao objetivo proposto (3).

Os IQTN são ferramentas simples e sistematizadas para combater os efeitos adversos que contribuem para aumento da desnutrição hospitalar, aumento da morbidade e mortalidade, e também para diminuir o custo-benefício da TN (1, 4).

Eles apontam possíveis falhas na execução de tarefas, para que assim possa ser tomada alguma decisão no sentido de melhora do serviço em caso de desvios de qualidade (1).

Sua implementação auxilia no cuidado terapêutico de melhor qualidade, por meio da redução de complicações, melhor adequação da oferta nutricional e melhor custoefetividade e, ainda, permite, quando necessária, a pronta aplicação de ações corretivas (1).

Por intermédio da equipe multidisciplinar de terapia nutricional (EMTN), os IQTN são aplicados e monitorados periodicamente. Vale ressaltar que a aplicação de IQTN é contínua, ou seja, não tem fim. Mês a mês, falhas podem ser corrigidas, metas são redefinidas e novas dificuldades podem surgir (1).

Quais os principais indicadores de qualidade em terapia nutricional?

A seguir, confira alguns dos indicadores de qualidade mais utilizados (1, 4).

IQTN

Considerações

Cálculo

Frequência da Triagem Nutricional A Sociedade Brasileira de Nutrição Enteral e Parenteral (BRASPEN) recomenda a realização da triagem nutricional em até 48h após a admissão hospitalar. Esforços devem ser realizados para fazer a triagem nas primeiras 24 horas da admissão, com subsequente avaliação nutricional mais detalhada nos pacientes que apresentarem risco nutricional. (Número de pacientes triados hospitalizados x 100) / Número de pacientes hospitalizados

 

Frequência de Avaliação Nutricional Ainda não existe consenso quanto ao melhor método de avaliação nutricional para o paciente hospitalizado, mas a ferramenta Avaliação Subjetiva Global

(ASG) tem grande aplicabilidade na prática clínica mundial e é também amplamente utilizada entre os profissionais de saúde brasileiros.

 

(Número de pacientes em TN avaliados X 100) / Número de pacientes em TN

 

Frequência de Diarreia Três ou mais evacuações líquidas em 24h é a definição mais comum em estudos com pacientes hospitalizados. (Número de pacientes em TN com diarreia X 100) / Número de pacientes em TN
Frequência de Constipação Caracterizada como a ocorrência de menos de uma evacuação no período de três dias. (Número de pacientes em TN obstipados X 100) / Número de pacientes em TN
Frequência de Saída Inadvertida da Sonda de Nutrição Enteral A saída ou migração acidental da sonda enteral podem contribuir significativamente para aumento de infecção e mortalidade, devido ao risco de aspiração pulmonar. (Número de pacientes em TNE que perderam a sonda X 100) / Número de pacientes em TNE
Frequência de episódios de distensão abdominal Consiste no abdome visivelmente distendido e/ou aumento na circunferência abdominal em 2 cm da linha de base1 (Nº de PCT em TNE que apresentam distensão abdominal x 100) /Nº de PCT em TNE
Frequência de pacientes com elevado resíduo gástrico Se em apenas uma aferição exceder >500 ml, pelo menos uma vez (Nº de PCT com resíduo gástrico elevado em TNE X 100) / Nº de pacientes em TNE
Discrepância entre o Valor Prescrito e o Ofertado ao Paciente Episódios de interrupção na TN promovem déficit de quilocalorias associado a aumento de complicações, principalmente infecciosas (Número de pacientes em TN que não atingiram a meta nutricional X 100) / Número de pacientes em TN
Disfunção da Glicemia em Pacientes em Terapia Nutricional A hiperglicemia é a complicação mais comum associada à terapia nutricional parenteral (TNP) também presente em enfermos com TNE, e pode estar associada a estresse metabólico, em pacientes graves (Número de pacientes em TN com disfunção da glicemia X 100) / Número de pacientes em TN
Frequência da Reavaliação Periódica Uma vez avaliado, o paciente em TN deve ser reavaliado periodicamente. Esta é uma forma de averiguar a eficácia da TN instituída. (Número de pacientes em TN reavaliados X 100) / Número de pacientes em TN
Jejum por mais de 24 Horas A interrupção da TN por mais de 24 horas pode implicar oferta nutricional aquém das necessidades energéticas ou nutricionais do paciente (Número de pacientes em TN em jejum por mais de 24 horas X 100) / Número de pacientes em TN
Intercorrências com a Suplementação Oral Não basta indicar e prescrever SNO, mas monitorar a aceitação, adequar às preferências, considerar os suplementos concentrados com menor volume e, assim, contribuir para o sucesso da TNO Número de pacientes com intercorrências com SO X 100 Número de pacientes com prescrição de SO
Frequência de Estimativa do Gasto Energético A aferição ou estimativa do gasto energético pode evitar complicações associadas a hipoalimentação, hiperalimentação, desnutrição e algumas importantes disfunções metabólicas, como síndrome de realimentação e hiperglicemia. (Número de pacientes em TN com estimativa das necessidades energéticas X 100) / Número de pacientes em TN

 

Ademais, para cada um dos indicadores de qualidade em terapia nutricional, é possível estabelecer metas. Por exemplo, em um recente estudo brasileiro com pacientes sob uso de nutrição enteral exclusiva acompanhados por 7 dias (4), as seguintes metas foram estabelecidas:

  • Frequência de pacientes com episódios de diarreia: <10%
  • Controle de episódios de constipação: <20%
  • Frequência de episódios de distensão abdominal: <15%
  • Frequência de pacientes com elevado resíduo gástrico: <7%

Como escolher quais indicadores implementar?

Como reforçam as diretrizes elaboradas em conjunto pela Associação Médica Brasileira e pelo Conselho Federal de Medicina (5), o conceito de qualidade pode ser definido como um conjunto de atributos que combinam excelência de nível profissional, uso eficiente de recursos, mínimo risco ao usuário e um alto grau de satisfação, de acordo com os valores sociais existentes (6, 7).

Os indicadores mais recomendados são aqueles que avaliam o tempo de jejum antes da introdução da terapia nutricional, que acompanham a evolução do estado nutricional, mensuram o volume efetivamente infundido e que apontam a frequência de ocorrência de complicações como a diarreia (5).

Entretanto, a escolha dos indicadores na terapia nutricional deve se orientar por aspectos como (8,9):

  • O impacto para a doença/quadro daquilo que está sendo mensurado;
  • As necessidades identificadas conforme a população que está sendo atendida;
  • Disponibilidade de evidências científicas;
  • Possibilidade de comparação com outros estabelecimentos de saúde;
  • Política institucional.

O que podemos concluir?

Os indicadores de qualidade em terapia nutricional desempenham um papel essencial no monitoramento e aprimoramento da assistência nutricional aos pacientes. Sua aplicação contínua permite a identificação de falhas e a implementação de ações corretivas, garantindo um atendimento mais seguro e eficaz.

Com os números em mãos, os profissionais de saúde podem atuar para promover melhorias nos processos de administração da terapia nutricional, reduzindo os riscos. Portanto, os indicadores de qualidade em terapia nutricional são ferramentas fundamentais na promoção de práticas mais efetivas e seguras.

 

 

 

Referências

  1. Horie LM, Barrére APN, Castro MG, Liviera AMB, Carvalho AMB, Pereira A, Miola TM. Diretriz BRASPEN de terapia nutricional no paciente com câncer. 2019.
  2. Fundação Nacional da Qualidade (FNQ). Rumo à excelência: critérios de avaliação do desempenho e diagnóstico organizacional – Prêmio Nacional da Gestão em Saúde. São Paulo: FNQ/CQH; 2006.
  3. Sá JSM, Marshall NG. Indicadores de Qualidade em Terapia Nutricional como ferramenta para avaliação da assistência nutricional em pacientes hospitalizados. Com Ciênc Saúde. 2014;25(2):127-40. Disponível em: https://bvsms.saude.gov.br/bvs/periodicos/Indicadores_de%20_qualidade_em_terapia.pdf. Acesso em: 05 abr. 2023.
  4. Mendes M, da Conceição Matos TLS, Gomes CRL, Portela RDSG. Indicadores de qualidade em unidades de terapia intensiva: avaliação de distúrbios gastrointestinais no uso de nutrição enteral exclusiva durante sete dias. BRASPEN Journal. 2023;38(1):0-0.
  5. Waitzberg DL, Enck CR, Miyahira NS, Mourão JRP, Faim MMR, Oliseski M, Borges A. Terapia nutricional: indicadores de qualidade. Projeto Diretrizes. 2011;1-11. Disponível em: https://amb.org.br/files/_BibliotecaAntiga/terapia_nutricional_indicadores_de_qualidade.pdf. Acesso em: 05 abr. 2023.
  6. Donabedian A. Evaluación de la calidad de la atención médica. In: White KL, Frank J, eds. Investigaciones sobre servicios de salud: una antología. Washington: OPAS; 1992. p. 382-404.
  7. World Health Organization. The World Health Report 2000. Health Systems: Improving Performance. Geneva: WHO; 2000. Disponível em: https://apps.who.int/iris/handle/10665/42281. Acesso em: 05 abr. 2023.
  8. Baker GR, Brooks N, Anderson G, Brown A, Mckillop I, Murray M, et al. Healthcare performance measurement in Canada: who’s doing what? Hosp Q. 1998;2:22-6.
  9. Carmines EG, Zeller RA. Reliability and Validity Assessment. Newbury Park: Sage Publications; 1991.

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