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Benefícios do Uso da Glutamina em Nutrição Parenteral

A glutamina (GLN) é o aminoácido não essencial de maior abundância no plasma (1) e é também o substrato de preferência das células de divisão rápida como enterócitos e linfócitos (2). Sendo assim, possui papel fundamental na indução de vias de proteção celular e atua na modulação de resposta inflamatória (3).

O uso de glutamina em nutrição parenteral vem sendo objeto de estudo na literatura científica, com intuito de avaliar os benefícios que a suplementação poderia gerar. A seguir, confira o panorama atual das evidências disponíveis.

Glutamina em nutrição parenteral: para quais condições clínicas pode trazer benefícios?

Pacientes cirúrgicos

Em pacientes cirúrgicos críticos, a suplementação parenteral de glutamina tem sido avaliada como estratégia de terapia nutricional.

Uma revisão sistemática e meta-análise de sete ensaios clínicos randomizados demonstrou redução significativa de complicações infecciosas e diminuição de 4,09 dias na duração da internação hospitalar, além de uma redução não significativa de 24% na mortalidade (4).

A diretriz prática da ESPEN de nutrição clínica em cirurgia recomenda a adição de glutamina (0,35–0,40 g/kg/dia) à nutrição parenteral exclusiva em pacientes cirúrgicos críticos quando a via enteral for inviável (5).

Queimaduras

A glutamina em nutrição parenteral tem sido avaliada em pacientes com queimaduras graves para melhorar os desfechos clínicos.

Uma meta-análise recente (6) incluiu 22 ECRs com 2.170 pacientes queimados e mostrou que a glutamina:

  • Reduziu a duração da internação hospitalar (em média 7,95 dias);
  • Melhorou as taxas de cicatrização de feridas e os tempos de cicatrização de feridas (9,15%);
  • Diminuiu as infecções de ferida.

Entretanto, os autores destacam a necessidade de mais ensaios multicêntricos de grande porte para que a suplementação rotineira de glutamina em nutrição parenteral seja indicada neste público.

Pancreatite

A suplementação de glutamina parenteral tem sido investigada em pacientes com pancreatite aguda grave sem possibilidade de nutrição enteral adequada.

Uma rede de meta-análise recente (7), com 19 ECRs e 1.035 pacientes, comparou diferentes imunonutrientes — como glutamina, ômega-3, arginina e nucleotídeos — e demonstrou que a glutamina parenteral se destacou.

Em comparação ao controle, a glutamina reduziu significativamente a mortalidade, as complicações infecciosas, a duração da internação hospitalar (–3,32 dias), o tempo de permanência na UTI (–2,53 dias) e os níveis de PCR (–17,78 mg/L).

A diretriz prática da ESPEN de nutrição clínica para pacientes hospitalizados com pancreatite aguda ou crônica recomenda suplementar L-glutamina parenteral a 0,20 g/kg/dia quando a via enteral não for viável (8).

Além disso, a diretriz BRASPEN também considera que o uso de glutamina, via enteral e/ou parenteral, na dose de 0,3–0,5 g/kg/dia, para pancreatite aguda grave (9).

Câncer

A glutamina em nutrição parenteral tem sido estudada como estratégia de imunonutrição para melhorar a função imune e reduzir complicações em pacientes submetidos à ressecção radical de câncer colorretal.

Uma meta‐análise de 31 ECRs com 2.201 pacientes (10) demonstrou que, em comparação ao suporte nutricional convencional, a glutamina parenteral:

  • Melhorou indicadores de função imunológica: IgA, IgM, IgG, CD4+ e razão CD4+/CD8+;
  • Reduziu complicações: infecção do sítio cirúrgico e vazamento anastomótico;
  • Diminuiu o tempo de internação (média –1,13).

Os autores ressaltam a necessidade de ensaios multicêntricos de grande porte antes de recomendar a suplementação rotineira desse nutriente. Contudo, os achados sugerem que a glutamina deve ser aplicada como uma terapia de imunonutrição eficaz no tratamento de pacientes com CCR após cirurgia radical (10).

Conclusão

Em síntese, a glutamina em nutrição parenteral tem se mostrado uma aliada promissora em contextos específicos, com benefícios como a redução de complicações infecciosas, melhora da cicatrização, menor tempo de internação e suporte à resposta imune.

Com o avanço de novos estudos, seu papel tende a se consolidar ainda mais na prática clínica.

 

 

 

Referências

1 – Pimentel RFW, Fernandes SL. Effects of parenteral glutamine in critically ill surgical patients: a systematic review and meta-analysis. Nutr Hosp 2020;37(3):616-621.

2 – Coëffier M, Déchelotte P. The Role of Glutamine in Intensive Care Unit Patients:  Mechanisms of Action and Clinical Outcome. Nutr Rev 2005;63(2):65-9.

3 – Wischmeyer PE. Glutamine: role in critical illness and ongoing clinical trials.  Curr Opin Gastroenterol 2008;24(2):190-7.

4 – Pimentel RFW, Fernandes SL. Effects of parenteral glutamine in critically ill surgical patients: a systematic review and meta-analysis. Nutr Hosp. 2020 Jul 13;34(3):616-621.

5 – Weimann A, Braga M, Carli F, Higashiguchi T, Hübner M, Klek S, Laviano A, Ljungqvist O, Lobo DN, Martindale RG, Waitzberg D, Bischoff SC, Singer P. ESPEN practical guideline: Clinical nutrition in surgery. Clin Nutr. 2021 Jul;40(7):4745-4761.

6 – Tao W, Xu G, Zhou J, Luo Y, Li PS. Glutamine Supplementation on Burn Patients: A Systematic Review and Meta-analysis. J Burn Care Res. 2024 May 6;45(3):675-684.

7 – Tao X, Yang Y, Xu S, Xiong Q. Efficacy of immune nutrients in severe acute pancreatitis: A network meta-analysis. Medicine (Baltimore). 2023 Oct 27;102(43):e35615.

8 – Arvanitakis, M., Ockenga, J., Bezmarevic, M., Gianotti, L., Krznarić, Ž., Lobo, D. N., … & Bischoff, S. C. (2024). ESPEN practical guideline on clinical nutrition in acute and chronic pancreatitis. Clinical Nutrition, 43(2), 395-412.

9 – Castro MG et al. Diretriz BRASPEN de Terapia Nutricional no Paciente Grave. Sociedade Brasileira de Nutrição Parenteral e Enteral. BRASPEN Journal, 2023.

10 – Yang T, Yan X, Cao Y, Bao T, Li G, Gu S, Xiong K, Xiao T. Meta-analysis of Glutamine on Immune Function and Post-Operative Complications of Patients With Colorectal Cancer. Front Nutr. 2021 Dec 6;8:765809.

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