Quais são as recomendações da nutrição parenteral para doenças cardíacas?

Em pacientes com diversas condições crônicas, a intervenção nutricional adequada é parte essencial do manejo clínico apropriado. E isso inclui problemas no coração, que não raro progridem para quadros de insuficiência cardíaca, associados a diferentes graus de desnutrição. Desse modo, a nutrição parenteral para pessoas com doenças cardíacas é indicada em diferentes contextos.

Sem dúvida, avaliar e reconhecer aqueles pacientes que se beneficiam da introdução da nutrição parenteral pode contribuir para desfechos positivos, sempre de forma a minimizar os riscos de complicações ou mesmo das consequências do estado nutricional inadequado.

O aspecto nutricional no paciente cardíaco

Pacientes com problemas cardíacos, principalmente insuficiência cardíaca crônica, podem ser acometidos com a chamada caquexia cardíaca¹.  Cabe reforçar que alguns dos distúrbios cardiovasculares mais comuns relacionados à insuficiência cardíaca são²:

• isquemia do miocárdio;
• hipertensão arterial sistêmica;
• cardiomiopatia dilatada;
• doença de Chagas;
• doença valvular cardíaca.

A partir disso, a caquexia cardíaca é caracterizada por perda não intencional de peso acima de 5% nos últimos 12 meses ou IMC abaixo dos 20 kg/m^{2 1}. Além disso, o paciente deve apresentar uma condição crônica e ao menos três dos marcadores clínicos a seguir¹:

• Decréscimo da força muscular;
• Fadiga;
• Anorexia;
• Baixo nível de gordura corporal;
• Alterações bioquímicas, caracterizadas sobretudo pela elevação de marcadores inflamatórios (proteína reativa C ou interleucina IL-6), anemia (Hb abaixo de 12g/dL) ou baixa albumina sérica (abaixo de 3.2 g/DL);

Desse modo, essa condição está associada a uma sobrevida menor, independente de outras variáveis relevantes, como idade e grau de comprometimento cardíaco¹.

No mais, o desequilíbrio nutricional está relacionado a aceleração de alterações morfológicas e fisiológicas, mesmo em um coração saudável (a partir de estudos experimentais com ratos)^3-8, bem como o agravamento de anemias associadas à insuficiência cardíaca⁹.  Algumas evidências apontam que a insuficiência cardíaca também pode comprometer a perfusão intestinal, levando à formação de edemas na parede do intestino⁹, com consequente piora da absorção de nutrientes, prejudicando ainda mais o estado nutricional^10,11,12.

As indicações de nutrição parenteral para doenças cardíacas

Posto que pacientes com insuficiência cardíaca experimentam maior dificuldade de manter um consumo calórico adequado¹³, o que pode desencadear a caquexia cardíaca, é fundamental que eles recebam suporte nutricional adequado.

Assim sendo, de acordo com as diretrizes específicas para o manejo de pacientes com problemas cardiológicos e pulmonares da ESPEN (The European Society for Clinical Nutrition and Metabolism), as vias oral e enteral devem ser a escolha de preferência para oferta nutricional nesses quadros. Essa orientação se dá pelo menor risco de complicações e pelo impacto econômico¹⁴, quando comparada a nutrição parenteral.

De todo modo, a via parenteral é indicada sempre que as vias oral e enteral não estiverem disponíveis ou a ingestão alimentar for insuficiente para atingir 100% das necessidades nutricionais¹⁴. Tal recomendação segue a mesma orientação conhecida para pacientes graves admitidos em ambiente hospitalar devido a outros problemas.

Seguindo a mesma diretriz da ESPEN, embora não haja na literatura estudos específicos bem desenhados para avaliar a introdução da nutrição parenteral em pacientes cardíacos, ela deve ser introduzida para interromper, minimizar ou reverter a perda de peso, principalmente por conta da má absorção¹⁴.  Por outro lado, a mesma diretriz¹⁴ não indica a prescrição de nutrição parenteral de modo profilático (ou seja, para prevenir o quadro de caquexia cardíaca).

Leia também: afinal, o que é nutrição parenteral?

Eventuais contraindicações da nutrição parenteral para doenças cardíacas

Por fim, não há contraindicação específica para introdução de nutrição parenteral. Logo, devem ser considerados os mesmos aspectos gerais para pacientes com outras condições. Todavia, vale considerar situações específicas tais como função cardíaca diminuída e retenção de fluidos.

Nesse sentido, a nutrição parenteral deve ser evitada ou acompanhada de cuidados para que a sobrecarga de volume de fluidos nesses pacientes não prejudique sua condição e torne-se uma intervenção inefetiva¹⁴.

Ainda que estudos adicionais devam ser conduzidos para reforçar este tópico, a nutrição parenteral nas doenças cardíacas compõe um recurso importante para reverter o impacto da desnutrição hospitalar, principalmente se acometidos pela caquexia.

Aproveite para saber mais sobre outras indicações de nutrição parenteral no artigo disponível aqui.

Referências

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2. Bocchi EA, Marcondes-Braga FG, Bacal F, Ferraz AS, Albuquerque D, Rodrigues D, et al. [Updating of the Brazilian guideline for chronic heart failure – 2012]. Arq Bras Cardiol. 2012;98(1 Suppl 1):1-33. Disponível em https://www.scielo.br/j/abc/a/j966TNy8Qr8ph7TQfLJXmky/?lang=pt Acesso em fev. 2023.
3. Okoshi MP, Okoshi K, Pai VD, Pai-Silva MD, Matsubara LS, Cicogna AC. Mechanical, biochemical, and morphological changes in the heart from chronic food restricted rats. Can J Physiol Pharmacol. 2001;79(9):754-60.
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6. Okoshi K, Fioretto JR, Okoshi MP, Cicogna AC, Aragon FF, Matsubara LS, et al. Food restriction induces in vivo ventricular dysfunction in spontaneously hypertensive rats without impairment of in vitro myocardial contractility. Braz J Med Biol Res. 2004;37(4):607-13.Disponível em: https://www.scielo.br/j/bjmbr/a/ZMWS7mvVhZfPnLGdDS8f5kJ/?lang=en  Acesso em fev. 2023.
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