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Entenda quais são as necessidades nutricionais de pacientes com COVID-19

Enfermeira sendo atenciosa com paciente

Os sintomas provocados pela COVID-19 tendem a prejudicar a aceitação alimentar. São exemplos: falta de ar, náuseas, vômitos, disgeusia (alteração do paladar) e anosmia (perda de olfato), além de febre, que pode elevar as demandas de energia1.

Assim, no atendimento aos pacientes diagnosticados com COVID-19, a avaliação nutricional é recomendada mundialmente desde o início da pandemia, pois pode interferir no prognóstico (evolução do paciente).

A maioria das pessoas contaminadas pelo novo coronavírus é tratada em casa, em isolamento domiciliar. Entretanto, uma parte apresenta complicações e precisa de hospitalização. De acordo com o Parecer Braspen/Amib para o Enfrentamento da Covid-19 em Pacientes Hospitalizados, cerca de 5% dos pacientes precisam de terapia intensiva. Neste subgrupo, as complicações mais frequentes são a disfunção respiratória e a disfunção renal.

Esses quadros podem ser especialmente prejudicados em caso de desnutrição. Por isso, as instituições de saúde vêm adotando protocolos para a decisão sobre o uso de nutrição enteral, nutrição parenteral e outras medidas ligadas à nutrição clínica no manejo da COVID-192;3. Confira neste texto quais são as necessidades nutricionais de pacientes com COVID-19.

Desnutrição é sinal de alerta

De acordo com a American Society for Parenteral and Enteral Nutrition (Aspen), um levantamento demonstrou que a prevalência de desnutrição nos pacientes com COVID-19 na cidade onde a pandemia se iniciou, em Wuhan, China, foi de 52,7%, levando à diminuição da função imunológica (inata e adaptativa) e diminuição da resistência à infecção3.

O alerta é importante pois, entre os pacientes hospitalizados com a doença, a desnutrição adquirida e a sarcopenia (perda de massa muscular) podem resultar em hospitalização prolongada, prejudicadas pela imobilidade e ventilação mecânica3.

Já entre os pacientes crônicos, é possível que haja sintomas gastrointestinais variados que podem limitar a ingestão de alimentos e induzir problemas de nutrição devido a um processo inflamatório prolongado. Segundo a Aspen, esse processo pode exacerbar o catabolismo (responsável pela produção de energia no organismo) e a anorexia (perda de apetite), agravando a desnutrição, impedindo a recuperação e levando à perda de independência e à redução da qualidade de vida3.


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Pacientes em terapia intensiva (UTI)

Conforme a ESPEN 2019, o paciente que permanece por mais de 48 horas na UTI deve ser considerado em risco de desnutrição e, portanto, se beneficia de terapia nutricional precoce e individualizada4. Estas são algumas das recomendações da Braspen/Amib para pacientes em terapia intensiva internados com COVID-19.

Via de alimentação
  • A alimentação por via oral é a preferencial em pacientes não graves com diagnóstico de COVID-19, incluindo a utilização de suplementos orais e terapia nutricional enteral quando a ingestão energética estimada for menor que 60% das necessidades nutricionais.
  • Em pacientes graves, a nutrição enteral é a via preferencial e deve ser em até 48 horas6.
  • No caso de contraindicação da via oral e/ou enteral, a nutrição parenteral deve ser iniciada o mais precocemente possível. Ela também deve ser considerada de forma suplementar após 5 a 7 dias em pacientes que não conseguirem atingir aporte calórico proteico superior a 60% por via digestiva2.
Aporte calórico na fase aguda
  • Iniciar com um aporte mais baixo, entre 15 kcal/kg/dia e 20 kcal/kg/dia e progredir para 25 kcal/kg/dia após o quarto dia ou após fase aguda inicial.
  • Utilizar fórmulas enterais com alta densidade calórica em pacientes com disfunção respiratória aguda e/ou renal.
  • Pacientes gravemente doentes, mesmo em caso de disfunção renal aguda, devem receber oferta proteica entre 1,5 g/kg/dia e 2 g/kg/dia, a fim de evitar balanço nitrogenado negativo. Em pacientes em terapia de substituição renal contínua, consideram-se até 2,5 g/kg/dia2.

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Pacientes com câncer

Os pacientes com câncer fazem parte do grupo de risco para COVID-19 por apresentarem diminuição da imunidade, como resultado da própria doença ou do tratamento com imunossupressores e outros métodos. Além disso, tendem a ter a ingestão alimentar prejudicada, o que demanda vigilância constante. Os pacientes que não estão infectados pelo novo coronavírus devem conversar com seus médicos e nutricionistas para verificar a necessidade de melhorar a alimentação regular e manter ou fazer ajustes dos suplementos já utilizados.

Pacientes que utilizam terapia enteral devem ser avaliados segundo as recomendações de início precoce da nutrição enteral para redução do risco de desnutrição, conforme indica o estudo Recomendações nutricionais para o paciente com câncer durante a pandemia do coronavírus (COVID-19)5.

 

Referências
  1. MANZOLI, B. S. et al. COVID-19 em pediatria: sugestões para o manejo nutricional. BRASPEN J. 2020; 35 (2): 107-13. Disponível em: https://wdcom.s3.sa-east-1.amazonaws.com/hosting/braspen/journal/2020/journal/abr-jun-2020/artigos/01-COVID19-em-pediatria.pdf. Acesso em: 24 jun. 2021

  1. CAMPOS, L. F. et al. Parecer Braspen/Amib para o Enfrentamento da Covid-19 em Pacientes Hospitalizados. BRASPEN J. 2020; 35 (1) :3-5. Disponível em: https://66b28c71-9a36-4ddb-9739-12f146d519be.usrfiles.com/ugd/66b28c_6092444f9bf04a7f91e6d7a73cf7ce3c.pdf. Acesso em: 24 jun. 2021

  1. MECHANICK, J. I. et al. Clinical Nutrition Research and the COVID-19 Pandemic: A Scoping Review of the ASPEN COVID-19 Task Force on Nutrition Research. JPEN 2021 v.45 i.1; 13-31. Disponível em: https://aspenjournals.onlinelibrary.wiley.com/doi/full/10.1002/jpen.2036. Acesso em: 24 jun. 2021

  1. SINGER, P. et al. ESPEN guideline on clinical nutrition in the intensive care unit. Clin Nutr. 2019 Feb; 38(1):48-79. Disponível em: https://pubmed.ncbi.nlm.nih.gov/30348463/. Acesso em: 24 jun. 2021

  1. NABARRETE, J. M. et al. Recomendações nutricionais para o paciente com câncer durante a pandemia do coronavírus (COVID-19). BRASPEN J 2020; 35 (1): 9-12. Disponível em: http://arquivos.braspen.org/journal/jan-mar-2020/artigos/03-Recomendacoes.pdf. Acesso em: 24 jun. 2021

  1. CAMPOS, L. F. et al. Revisão do Parecer BRASPEN de Terapia Nutricional em pacientes hospitalizados com COVID-19. BRASPEN J 2021; 36 (1): 122-6. Disponível em: https://wdcom.s3.sa-east-1.amazonaws.com/hosting/braspen/journal/2021/journal/jan-mar-2021/artigos/15-Atualizacao-Parecer-BRASPEN-COVID-19.pdf. Acesso: 30 jul. 2021.