Temas » Desnutrição Relacionada a Doença » Artigos » Entenda as complicações nutricionais em pacientes com intestino curto

Entenda as complicações nutricionais em pacientes com intestino curto

Paciente hospitalizado sendo atendido

O intestino é um órgão importantíssimo para a absorção de nutrientes e para a regulação hormonal. Seu bom funcionamento está intimamente conectado à saúde e ao bem-estar físico e emocional.

Por isso, toda alteração que afete as funções exercidas por esse órgão precisa de atenção. Uma delas é a síndrome do intestino curto, que resulta em perda da capacidade de absorção dos nutrientes e traz risco de desnutrição.

O acompanhamento nutricional e as escolhas terapêuticas são fundamentais para ajudar na recuperação e na adaptação do paciente, visando melhorar sua qualidade de vida.

Em um primeiro momento, as pessoas acometidas por essa síndrome utilizam a nutrição parenteral. Para muitos pacientes, essa via de alimentação se torna permanente e garante o aporte adequado de macro e micronutrientes para o organismo.

Segundo artigo publicado no European Journal of Medical Technologies, a síndrome do intestino curto está na origem de 75% das indicações de terapia parenteral domiciliar crônica.

Em outros casos, é possível, em etapas posteriores, introduzir a nutrição enteral e a alimentação oral, retomando um estilo de vida mais próximo ao anterior1.


Leia também: Evolução da terapia nutricional em casa


Como ocorre a síndrome do intestino curto?

Algumas pessoas nascem com uma malformação no intestino. Mas a maior parte dos pacientes acometidos pelo intestino curto adquirem essa condição ao longo da vida devido a alguma doença, como o câncer, ou a uma intervenção cirúrgica que resulta na remoção de parte do órgão3.

O intestino de uma pessoa saudável tem entre 5 e 8 metros de comprimento. Por esse longo tubo, os alimentos são gradualmente digeridos, passando por diferentes etapas1,2,3.

Quando, por algum motivo, existe perda de parte do intestino, o paciente pode desenvolver um estado de má absorção grave.

Essa consequência varia muito, pois o intestino é um órgão altamente adaptável. Os principais fatores que influenciam no prognóstico são o tamanho e o local da remoção realizada. Quando o intestino delgado do paciente fica com 2 metros ou menos, aumenta o risco de intercorrências1,2,3.

Quem pode ter a síndrome do intestino curto?

  • Bebês prematuros submetidos à cirurgia por enterocolite necrosante;
  • Pacientes que fizeram cirurgia por causa de um vólvulo (ou volvo, que é a torção do intestino);
  • Pessoas que nasceram com estreitamento ou obstrução do intestino;
  • Pacientes que tiveram parte do intestino removida por causa da doença de Crohn;
  • Pacientes com pseudo-obstrução intestinal ou motilidade anormal do intestino;
  • Pacientes que tiveram partes do intestino removidas devido a tumor, fluxo sanguíneo anormal ou estenose;
  • Pacientes com intestino prejudicado por terapia de radiação;
  • Bebês com intestinos extraordinariamente curtos3.

Quais complicações o intestino curto pode trazer?

Os pacientes com intestino curto podem sofrer desde sintomas desagradáveis até desnutrição grave2. Confira a seguir.
Mal-estar decorrente do intestino curto

  • Diarreia;
  • Inchaço;
  • Pouco ganho ou perda de peso;
  • Pouco apetite;
  • Flatulência;
  • Fezes malcheirosas;
  • Fadiga;
  • Palidez;
  • Vômito.

Redução da absorção de nutrientes

Pacientes com intestino curto estão sujeitos a uma série de consequências nutricionais, entre elas a deficiência de magnésio, sódio e selênio, a constante necessidade de reposição de vitaminas A, B12, D, E e K e uma intensa redução na absorção de energia, conforme descrito pela Sociedade Britânica de Gastroenterologia2,3.

No entanto, o intestino é composto por diferentes áreas, que têm funções específicas. Assim, a perda de cada uma delas traz resultados distintos.

O duodeno e o jejuno, por exemplo, são os principais responsáveis pela absorção de proteínas, carboidratos, vitaminas solúveis em água e minerais. Alterações nessas estruturas estão ligadas ao risco de desnutrição e perda muscular.

Já no íleo é realizada a absorção de vitamina B12 e dos sais biliares (que são secretados pelo fígado para a digestão dos lipídios).

Quando o íleo é removido, a absorção de lipídios e vitaminas solúveis em gordura fica prejudicada. Essa parte do intestino também regula o esvaziamento do estômago e o tempo que os alimentos levam para passar por todo o sistema digestivo. Quando o íleo não funciona bem ou é retirado, os alimentos acabam passando de forma muito acelerada pelo estômago e intestino.

No cólon, por sua vez, ocorre a fermentação carboidratos mal digeridos e é onde é realizada a reabsorção final de fluidos e eletrólitos. Em condições normais, o cólon absorve mais do que 1,9 litros de fluídos por dia. A falta dessa estrutura, portanto, pode representar risco de desidratação e de desequilíbrio eletrolítico para os pacientes2.

Como a nutrição se adapta ao intestino curto?

Logo após a cirurgia, o paciente recebe a nutrição parenteral, que exerce papel determinante para fornecer o que o organismo precisa durante o período de cicatrização e recuperação do pós-operatório.

Depois disso, o intestino passa por uma fase de ajuste, que pode durar cerca de dois anos, tornando mais eficiente o segmento do órgão que se manteve intacto.

Dependendo da avaliação nutricional e condição de cada paciente, nessa etapa a opção de terapia enteral pode ser importante para estimular a adaptação intestinal, aumentar a absorção de lipídios e proteínas e diminuir a dependência de nutrição parenteral.

A Associação Médica Brasileira recomenda que a terapia nutricional utilizando as vias digestivas (oral ou enteral) seja iniciada assim que as perdas fecais estiverem controladas, contribuindo assim para o melhor desenvolvimento da mucosa que recobre o tubo digestivo.

Sempre que possível, em longo prazo, o principal objetivo é permitir aos indivíduos assegurar as suas necessidades nutricionais por meio da nutrição enteral e/ou da alimentação oral, objetivando qualidade de vida e integração social, reduzindo a morbilidade e mortalidade3.

Leia mais artigos sobre nutrição clínica aqui.

 

Referências

  1. Goral, k.; Matras, P.; Skrzypek, M. Nutritional management of short bowel syndrome in adult patients. European Journal of Medical Technologies 2018; 4(21): 1-9. Disponível em: http://www.medical-technologies.eu/upload/nutritional_management_of_short_bowel_syndrome.pdf. Acesso em: 29 jun. 2021.
  2. Nightingale, J.; Woodward, J. M. Guidelines for management of patients with a short bowel. 2006; 55(Supl. IV):iv1–iv12. Disponível em: https://www.bsg.org.uk/wp-content/uploads/2019/12/Guidelines-for-management-of-patients-with-a-short-bowel.pdf. Acesso em: 29 jun. 2021.

  3. Terapia nutricional na síndrome do intestino curto: insuficiência/falência intestinal. Associação Médica Brasileira e Conselho Federal de Medicina. 2011. Disponível em: https://diretrizes.amb.org.br/_BibliotecaAntiga/terapia_nutricional_na_sindrome_do_intestino_curto_insuficiencia_falencia_intestinal.pdf. Acesso em: 29 jun. 2021.