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Triagem de risco nutricional: qual a importância e como fazer?

A triagem de risco nutricional é o primeiro passo para identificar e garantir o suporte necessário a problemas ligados à nutrição em pacientes com diferentes quadros e idades1. Com isso, o profissional de saúde é capaz de coletar, de maneira simples e logo no processo de admissão, dados para tomada de decisões envolvendo esse aspecto essencial do rastreamento nutricional para uma boa evolução clínica do doente.

Além disso, esse tipo de processo permite que pacientes com maior risco de desenvolver problemas nutricionais sejam identificados de forma precoce2. Ainda que os métodos disponíveis possuam algumas limitações, é fundamental reconhecer a importância da triagem no combate à desnutrição clínica.

 

O que é a triagem de risco nutricional?

Ao mesmo tempo em que é um processo fundamental, o consumo alimentar envolve mecanismos fisiológicos complexos, que regulam desde o apetite até as necessidades nutricionais diárias de cada pessoa3. A partir disso, por diferentes razões, pessoas enfermas podem enfrentar dificuldades para alcançar essas necessidades nutricionais básicas, principalmente após a admissão no ambiente hospitalar3.

Adicionalmente, alterações metabólicas e fisiológicas podem modificar as necessidades nutricionais, ao mesmo tempo que reduzem a frequência da ingestão de alimentos. Exemplos disso são as disfunções na mastigação, deglutição e/ou capacidade de engolir, bem como os efeitos colaterais dos medicamentos administrados. Ainda assim, não é raro que pacientes com quadros complexos tenham o estado de desnutrição identificado apenas em fases avançadas do tratamento4.

Desse modo, as ferramentas de triagem de risco nutricional são úteis para detectar, em tempo hábil, eventuais manifestações de desnutrição3. Mas, para oferecer resultados relevantes, elas devem ser simples, ágeis, econômicas, padronizadas e devidamente validadas3.

Além disso, elas devem ser sensíveis e específicas o suficiente e, se possível, capazes de indicar o sucesso do prognóstico mediante a introdução da terapia nutricional3. Para isso, essas ferramentas de triagem são orientadas por alguns pilares que devem ser respondidos, conforme indica a ESPEN (European Society for Clinical Nutrition and Metabolism)5:

 

  • Qual a condição nutricional do paciente no momento?
  • Essa condição é estável?
  • Essa condição pode piorar?
  • A doença pode deteriorar a condição nutricional?

 

A partir disso, cada ferramenta de triagem atribui uma escala para quantificar o risco de deficiência nutricional ao qual o paciente está exposto, o que permite definir a linha de conduta a ser adotada5.

 

Qual a importância desse procedimento?

A realização da triagem nutricional é fundamental, sobretudo, para avaliar de que forma as possíveis intervenções nutricionais terão alguma influência sobre a sua condição, prevenindo ou amenizando a desnutrição. Tais desfechos podem ser mensurados diante de parâmetros como5:

 

  • Melhoria (ou ao menos prevenção) da deterioração das funções físicas e mentais;
  • Redução do número e da gravidade das complicações durante o tratamento;
  • Aceleração no processo de recuperação e redução do tempo da enfermidade;
  • Diminuição no tempo de internação, otimizando os recursos disponíveis.

 

O processo de avaliação do risco nutricional deve ser parte do protocolo clínico empregado, incluindo sempre um plano de ação para quando o risco nutricional for identificado3. Em todo caso, pacientes hospitalizados devem ser submetidos à triagem, no máximo, nas primeiras 72 horas após a admissão hospitalar1.

Além disso, a introdução da terapia nutricional deve levar em conta também outros fatores específicos da enfermidade diagnosticada e do momento do tratamento5. Assim, é possível determinar a relação de risco/benefício desse suporte.

 

Quais os protocolos mais utilizados?

Uma revisão de literatura publicada em 2013 identificou 32 ferramentas de triagem de risco nutricional6. Todavia, algumas são habitualmente mais reconhecidas e empregadas. O uso de cada uma delas pode variar conforme o ambiente (hospitalar ou ambulatorial, por exemplo) e o público-alvo7. Entre alguns exemplos disso temos:

 

  • Triagem de Risco Nutricional 2002 (NRS 2002), indicada para o ambiente hospitalar e recomendada pela ESPEN;
  • Ferramenta de Triagem Universal de Desnutrição (MUST), indicada para contextos ambulatoriais;
  • Mini Avaliação Nutricional (MNA), indicada para pacientes geriátricos.

 

Adicionalmente, outras ferramentas, mais comumente utilizadas para avaliação do estado nutricional podem ser consideradas. Elas são indicadas principalmente para diagnosticar e classificar a desnutrição já instalada, levando em conta fatores como perda de peso não intencional nos últimos seis meses e na modificação do padrão alimentar1. Outros aspectos avaliados à beira do leito são alterações na composição corporal (como gordura, por exemplo) ou em funções fisiológicas7. Entre esses exemplos, temos:

 

  • ASG (Avaliação Subjetiva Global), indicada para o ambiente hospitalar;
  • Avaliação Subjetiva Global Produzida Pelo Paciente (ASGPPP), indicada para pacientes oncológicos.

 

Em geral, as ferramentas NRS 2002 e ASG costumam ser as mais utilizadas7. Seja como for, após a triagem de risco nutricional, pacientes com risco identificado devem passar por uma avaliação mais aprofundada, inclusive para detalhar as possíveis causas da desnutrição. Ademais, precisam ser considerados fatores que podem agravar o quadro, sejam eles relativos à doença ou ao contexto psicossocial, bem como dados provenientes de aspectos bioquímicos7.

 

Aproveite e saiba mais sobre as consequências da desnutrição relacionada à doença e o impacto da negligência diante dessa condição.

 

 

 

 

 

Referências

  1. DIAS MCG, et al. Triagem e Avaliação do Estado Nutricional. Sociedade Brasileira de Nutrição Parenteral e Enteral/ Associação Brasileira de Nutrologia. Disponível em: https://amb.org.br/files/_BibliotecaAntiga/triagem_e_avaliacao_do_estado_nutricional.pdf. Acesso em maio de 2023.
  2. GALLAGHER-ALLREDet al. Malnutrition and clinical outcomes: the case for medical nutrition therapy. Journal of the American Dietetic Association, v. 96, n. 4, p. 361-369, 1996. Disponível em: https://www.jandonline.org/article/S0002-8223(96)00099-5/fulltext. Acesso em maio de 2023.
  3. REBER, Emilie et al. Nutritional risk screening and assessment. Journal of clinical medicine, v. 8, n. 7, p. 1065, 2019. Disponível em: https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pmc/articles/PMC6679209/pdf/jcm-08-01065.pdf. Acesso em maio de 2023.
  4. KRUIZENGA, H. M. et al. Are malnourished patients complex patients? Health status and care complexity of malnourished patients detected by the Short Nutritional Assessment Questionnaire (SNAQ). European journal of internal medicine, v. 17, n. 3, p. 189-194, 2006.
  5. KONDRUP, JESPEN et al. ESPEN guidelines for nutrition screening 2002. Clinical nutrition, v. 22, n. 4, p. 415-421, 2003. Disponível em: https://espen.info/documents/screening.pdf. Acesso maio de 2023.
  6. VAN DER SCHUEREN MAEB, Nutrition screening tools: does one size fit all? A systematic review of screening tools for the hospital setting. Clinical nutrition, v. 33, n. 1, p. 39-58, 2014. Disponível em: https://www.clinicalnutritionjournal.com/article/S0261-5614(13)00108-8/fulltext. Acesso em maio de 2023.
  7. FRESENIUS KABI. Compêndio de Nutrição Parenteral. Disponível em: https://www.fresenius-kabi.com/br/documents/compendio_10_05_2018.pdf. Acesso em maio de 2023.