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Por que vale a pena investir na nutrição parenteral com ômega-3 em pacientes críticos

Uma vez que os lipídios são componentes centrais de qualquer fórmula nutricional, considerar a composição da emulsão lipídica da nutrição parenteral com ômega-3  é uma estratégia efetiva na busca de desfechos positivos. Emulsões lipídicas com esse elemento vêm demonstrando uma série de benefícios clínicos 1, sobretudo em contraposição às opções de emulsão com óleo de soja.

Além disso, as evidências parecem concordar que há ganhos econômicos na escolha dessas emulsões lipídicas com compostos a base de óleo de peixe2,3.

No entanto, a maioria dos estudos se concentrou em demonstrar os benefícios em uma população diversificada que precisava, em algum momento, de nutrição parenteral. Para mudar isso, um estudo publicado em novembro de 2020 no periódico Critical Care buscou avaliar a custo-efetividade do ômega-3 em uma população específica, a de pacientes críticos.

 

Avaliação da custo-efetividade da nutrição parenteral com ômega-3

As análises de custo-efetividade de qualquer intervenção comparam o uso de novos recursos com aqueles adotados comumente. Tal contraposição considera os custos e os benefícios de cada alternativa, sobretudo do ponto de vista clínico.

Assim, os resultados obtidos podem influenciar decisões terapêuticas ou ancorar novas diretrizes4. Diante disso, a publicação em questão propôs justamente uma meta-análise acompanhada de análise de custo-efetividade do uso da nutrição parenteral com ômega-3 comparado ao padrão de tratamento em pacientes críticos.

Como referência do padrão foram utilizadas fórmulas de nutrição parenteral sem adição do óleo de peixe. O grupo avaliado englobava adultos admitidos em unidades de terapia intensiva1.

Para isso, houve um levantamento da literatura sobre o tema em busca de resultados de várias pesquisas sobre pacientes internados em UTI recebendo nutrição parenteral. Mais de 4 mil estudos foram encontrados e, posteriormente, 24 ensaios clínicos randomizados controlados foram selecionados para compor a análise.

O recorte considerado reunia adultos que precisavam de terapia nutricional parenteral para suprir, pelo menos, 70% de suas necessidades calóricas. A análise foi realizada em dois grupos: todos os pacientes de UTI e um subgrupo específico de pacientes mais graves, que ficaram internados por mais de 48 horas1.

Os principais desfechos considerados foram o número de casos de quaisquer infecções durante a internação e mortalidade em até 30 dias após receber, no mínimo, uma dose do tratamento do estudo. Desfechos secundários também foram considerados, entre eles, tempo de internação, casos de sepse e duração de suporte de ventilação mecânica1.

Por fim, para considerações da análise farmacoeconômica, foi feita uma simulação englobando os dados de seis países diferentes (França, Alemanha, Itália, Espanha, Reino Unido e Estados Unidos) para comparar o impacto dos custos na utilização da nutrição parenteral com ou sem ômega-31.

 

Resultados mostram os benefícios de se optar pelo ômega-3 para pacientes críticos

As 24 pesquisas selecionadas, envolvendo 1.421 pacientes de UTI, apontaram os seguintes resultados mais significativos associados ao uso do ômega-31:

  • Redução do risco de infecções em 38% considerando todos os pacientes de UTI, e em 35% no grupo de pacientes mais graves;
  • Diminuição do tempo de internação hospitalar em cerca de 3 dias para pacientes internados nas UTIs e em 4 dias para pacientes considerados críticos;
  • Minimização do tempo de permanência na UTI em aproximadamente 2 dias;
  • Tendência de redução nos casos de sepse e na taxa de mortalidade após 30 dias.

 

Quanto aos indicadores laboratoriais, o grupo que recebeu ômega-3 apresentou melhoras em vários aspectos, como função hepática, redução de marcadores inflamatórios, melhor perfil lipídico e melhores níveis de vitaminas lipossolúveis.

A análise econômica, por sua vez, mostrou que essa abordagem de escolha de uma nutrição parenteral com ômega-3 resultou em economia geral para os sistemas de saúde em todos os seis países estudados.

Isso aconteceu principalmente devido aos benefícios clínicos alcançados em função do investimento realizado, principalmente menor tempo de internação e menor número de complicações infecciosas. A redução do custo/paciente teve valores médios de1:

 

  • € 3.652 na França;
  • € 4.813 na Alemanha;
  • € 3.342 na Itália;
  • € 3.156 na Espanha;
  • € 5.546 no Reino Unido;
  • € 9.586 nos Estados Unidos.

 

 

O que isso significa na prática de uso da nutrição parenteral

Diante disso, os autores afirmam que a nutrição parenteral contendo ômega-3 demonstrou benefícios significativos em pacientes de UTI, benefícios estes parecidos com os observados na população hospitalar geral2,3.

Mesmo que o custo com a aquisição da alternativa de formulação de nutrição parenteral com óleo de peixe seja maior, os custos totais acabam sendo menores devido à redução em aspectos como tempo de internação, permanência na UTI e o número de quadros de infecção1.

Essa economia se mostra ainda mais significativa no contexto da UTI do que em enfermarias na hospitalização convencional. A razão disso é o dispêndio necessário para o uso dessas estruturas especializadas em um ambiente de Terapia Intensiva. Isto foi observado em todos os países analisados, e a redução de custo foi maior onde as despesas eram mais elevadas1.

Em resumo, a análise farmacoeconômica de custo-efetividade apresentada nessa revisão sistemática sugere que a economia de recursos e os melhores desfechos obtidos com a nutrição parenteral com ômega-3 fazem dela uma opção valiosa e benéfica, também a pacientes críticos.

 

Entenda agora como o ômega-3 também é relevante no manejo nutricional de pacientes cirúrgicos.

 

Referências

 

  1. Pradelli, L., Klek, S., Mayer, K., Omar Alsaleh, A. J., Rosenthal, M. D., Heller, A. R., & Muscaritoli, M. (2020). Omega-3 fatty acid-containing parenteral nutrition in ICU patients: systematic review with meta-analysis and cost-effectiveness analysis. Critical Care, 24, 1-12. Disponível em: <https://ccforum.biomedcentral.com/articles/10.1186/s13054-020-03356-w> Acesso em 10 de dezembro de 2024.
  2. Pradelli L, Mayer K, Klek S, Omar Alsaleh AJ, Clark RAC, Rosenthal MD, et al. Omega-3 fatty-acid enriched parenteral nutrition in hospitalized patients: systematic review with meta-analysis and trial sequential analysis. JPEN J Parenter Enteral Nutr. 2020;44(1):44–57. Disponível em: <https://aspenjournals.onlinelibrary.wiley.com/doi/10.1002/jpen.1672>  Acesso em 10 de dezembro de 2024.
  3. Pradelli L, Mayer K, Klek S, Omar Alsaleh AJ, Rosenthal M, Heller AR, et al. SUN-LB640: omega-3 fatty-acid enriched parenteral nutrition regimens in hospitalized patients in EU5 countries: a pharmacoeconomic analysis. Clin Nutr. 2019;38:S297. Disponível em: <https://www.clinicalnutritionjournal.com/article/S0261-5614(19)32606-8/abstract> Acesso em 12 de novembro de 2024.
  4. Hill SR. Cost-effectiveness analysis for clinicians. BMC Med. 2012;10:10. Disponível em: <https://bmcmedicine.biomedcentral.com/articles/10.1186/1741-7015-10-10> Acesso em 10 de dezembro de 2024.